Quando Patricia e Débora saíram do quarto, repararam que a
porta do quarto de Zayn estava aberta e ele estava lá, deitado na cama de
barriga para cima a olhar para o tecto e com os fones nos ouvidos.
- Então, já fizeste o jantar? – perguntou Patricia entrando
de rompante no quarto dele, seguida por Débora.
- Sim! – afirmou assim que deu pela presença das duas e
retirou um fone do ouvido. – Estava a ver que a vossa conversa nunca mais
acabava.
- Hã? Ahm…como assim? – perguntou Débora confusa olhando
para Patricia. Será que…será que ele havia ouvido a conversa dela será que
ele…não, não podia.
- Sim, demoraram tanto tempo ali fechadas no quarto!
Raparigas…- afirmou e em seguida atirou uma almofada para cima de cada uma
delas.
Ambas respiraram de alivio ao perceber que ele não havia
escutado a conversa.
- Bem, já podemos ir jantar ou quê? Estou faminta! – afirmou
Patricia esfregando as mãos uma na outra.
Após isso, os três saíram do quarto e dirigiram-se para a
sala de jantar. Já praticamente toda a família Malik se encontrava à mesa.
- Boa noite a todos! – desejou Débora que ainda não havia
visto os pais de Zayn naquele dia.
- Boa noite! – responderam e em seguida os três sentaram-se.
- Então filho, preparado para amanhã? – perguntou Yasser.
- Acho que sim pai, acho que sim. – respondeu Zayn um pouco
nervoso.
Não sabia se as outras pessoas notaram isso, mas Débora
havia notado que Zayn estava estranho, muito. Ela estava com medo, apavorada só
de pensar no facto que talvez ele tivesse ouvido a conversa dela com Patricia.
E se ele ouvira? Oh meu deus, ela não queria pensar nisso, mas…iria ele fingir
que não tinha ouvido nada? Não lhe parecia, mas aquela ideia não lhe saia da
cabeça. E para além disso, ela sentia, sentia que algo se passava, que ele não
estava bem e ela queria saber, queria muito saber o que era para puder
ajudá-lo, mas ela nem tinha o direito de saber, não depois de esconder tudo
aquilo dele e ainda pedir que a sua irmã guarde segredo dele.
Zayn sentia-se estranho, o seu estomago dava voltas e voltas,
era como se todos os nervos lhe estivessem a vir à flor da pele. Seria aquilo
por causa da audição que o esperava no dia seguinte? Provavelmente, ou então
era aquele desejo, aquele desejo que o consumia, aquele desejo, aquela vontade
de a agarrar, de beijá-la, de contar ao mundo que a queria, de agarrar nela e
levá-la dali para fora, de fugir com ela para um mundo onde existissem apenas
os dois. Um mundo onde nada os impedisse de serem felizes juntos, onde medos e
teimosias não existissem, um mundo deles, apenas dele e dela. Infelizmente,
tudo isso não passava de desejos, simples desejos que o consumiam dia após dias
mas que a seu ver, nunca se poderiam vir a tornar realidade. Ela…ela não sentia
o mesmo, ela via-o apenas como um irmão, ela já o havia avisado, não valia a
pena continuar a pensar no assunto, mas ele simplesmente não conseguia evitar,
ele amava-a, amava-a muito. Pela primeira vez, ele estava realmente apaixonado,
apaixonado pela sua melhor amiga e não sabia o que fazer, sentia-se perdido.
O jantar foi praticamente passado em silêncio e logo após a
sobremesa, que Débora se recusou a comer e todas a repreenderam, Zayn e Débora
subiram para o quarto.
- Zayn…- Débora chamou a sua atenção assim que entraram no
quarto.
- Sim?
- Nunca mais me mostraste desenhos teus. – afirmou sentando-se
na cama dele – Não tens desenhado?
- Tenho…mas, ultimamente não tem calhado mostrar-te. Espera
ai! – disse-lhe e dirigiu-se para a secretária onde se encontrava o computador
e uma imensidão de coisas. Pegou num caderno e sentou-se ao lado de Débora –
Toma, ai estão os meus mais recentes desenhos.
Débora agarrou no caderno cuidadosamente e abriu-o. A cada
desenho que passava, ela ficava ca vez mais fascinada. Zayn era um rapaz super
talentosa, e aqueles dons haviam lhe sido concebidos por alguma razão, porque
ele merecia, porque ele era uma pessoa maravilhosa, porque ele era o melhor
amigo eu se podia ter e com certeza seria o melhor namorado do mundo. Débora
dava por si todos os dias a pensar nele, e em como a sua futura namorada seria
tão sortuda em tê-lo. Ele era tudo aquilo que ela desejava num rapaz, ele não
era um rapaz de sonho, não para ela. Para ela, ele era o sonho, o seu sonho.
A sua boca abriu-se num “O” quando viu um desenho seu, um
desenho seu a dormir na cama de Zayn e estava com os cabelos, pareciam
despenteados.
- Quando foi isto? – perguntou rindo do desenho, do seu
cabelo.
- Ah, isso foi naquele dia em que vieste aqui ter, no dia em
que o teu pai…
- Ah, sim, já me lembro. No dia em que me ataste o cabelo de
uma maneira qualquer, não foi?
Ambos riram, riram com imensa vontade. Aquilo sabia tão, mas
tão bem para os dois.
Após ver todos os desenhos, que estavam fascinantes, assim
como tudo aquilo que ele fazia, Débora fechou o caderno, pousou-o em cima da
cama e olhou para Zayn. Zayn olhou para ela e os seus olhares cruzaram-se, como
muitas vezes acontecia e eles simplesmente sorriam um para outro, mas agora,
agora era diferente, eles não sorriram. Após os seus olhares se cruzarem, ambos
sentiram uma conexão, uma enorme conexão, uma conexão diferente daquelas que
costumavam sentir. Aquela conexão estava a fazer com que os seus rostos se
aproximassem cada vez mais, e mais, até que as suas testas se tocaram.
Débora estava a ficar demasiado nervosa e confusa com o que
estava a acontecer, como se previsse o que estava por vir e ela não queria
isso, ela não queria, criar ou sequer dar-lhe esperanças.
- Estás…hum…nervosos, não estás? – perguntou sem pensar,
para quebrar o gelo – Digo, por causa da audição.
- Ahn? S-sim…- Zayn havia acordado do seu transe e havia-se
apercebido que o beijo que ele ansiava não havia acontecido. Sentira como que
uma faca lhe cravava o coração. Ela não gostava mesmo dele, não da mesma
maneira que ele gostava dela e isso doía-lhe tanto, mas tanto. Sem pensar,
desencostou a sua testa dela.
- Vai correr tudo bem, eu tenho a certeza. Tu és lindo e
tens uma voz linda e ninguém será capaz de te dar um não! Escreve o que te
digo. – Débora afirmou e fez-lhe um pequeno carinho rosto.
- Ahm…gosto tanto de ti. – Zayn disse simplesmente e logo em
seguida deu-lhe um pequeno beijo nos lábios, sim, daqueles pequenos beijos
normais, que eles costumavam dar enquanto melhores amigos – Anda aqui. – bateu
com a mão na cama para que ela se fosse deitar no meio das suas pernas e ela
assim o fez.
Débora sentou-se no meio das pernas de Zayn e encostou a
cabeça no seu peito. Como aquilo sabia bem. Quantas saudades, ela não tinha
daqueles momentos, daqueles momentos que eles tiveram assim.
- Tinha saudades disto! – afirmaram os dois como que um coro
bem ensaiado e em seguida riram. Zayn beijou o topo da sua cabeça e envolveu os
seus braços à volta da cintura dela apertando-a num abraço por fim.
- Sou um sortudo em ter-te ao meu lado, sabias? – ele perguntou-lhe
ainda abraçado a ela enquanto olhava para o tecto.
- A única sortuda aqui sou eu…- Débora afirmou por fim. Como
é que ele podia dizer que o sortudo era ele por a ter, se na verdade ela o ia
abandonar, ele ia abandoná-lo e ainda estava a mentira. Odiava-se tanto por
isso. – A maior parte dos casos de melhores amigos, eles batem-se, digo, na brincadeira,
andam sempre as turras e nós…nós somos tão diferentes.
- Nunca ouviste falar em edição limitada? Então, é isso que
somos. Eu gosto bastante de ser diferente, e tu…tu podes ter a certeza que és
diferente, diferente de qualquer outra pessoa que ande por aí…tu és especial.
És…a minha especial. – confessou Zayn por fim.
Débora mais nada disse, limitou-se a abanar a cabeça num
gesto afirmativo e fechou os olhos, deixando-se embalar pelo som da respiração
de Zayn que batia na sua cabeça, bem encostada no peito dele.
Sem comentários:
Enviar um comentário