Assim que abriu a porta, Débora deparou-se com um pai mais
calmo.
- Débora…Desculpa, eu sei que não te devia ter batido filha,
mas estava nervoso e tu gritaste e…desculpa filha. Eu sei que aconteceu tudo
assim muito instantaneamente.
- Pois pai…
- Bem, eu e a tua mãe estivemos a falar e decidimos esperar
até ao final do verão. Isto é, para tu depois também ires com a tua mãe e o teu
irmão. Eu vou já na próxima semana. – Josh afirmou.
- Mas…quando o Verão acabar…eu vou ter mesmo que ir?
- Vais. Somos uma família, não tem jeiteira vivermos
separados. Está decidido Débora, no final do Verão vocês 3 vão ter comigo a
Portugal.
- A Portugal? Porquê Portugal?
- Porque os teus avós eram de lá, tenho lá família e um tio
meu já disse que arranjava um emprego para mim e para a mãe lá.
- Então, a mãe vai ter que abandonar o trabalho que tem cá?
- Obviamente!
- Mas isso não é justo pai!
- Cala-te! Aqui quem decide o que é justo ou não sou eu! –
mais uma vez, Josh foi agressivo.
Débora estava completamente espantada, assustada com a
atitude do seu pai. Ele nunca fora assim. Josh sempre fora um homem calmo e
sereno.
- Bem…o almoço está quase pronto, vai pondo a mesa filha. –
Alice pediu-lhe.
- Está bem mãe, mas eu já comi na casa do Zayn. – afirmou
Débora dirigindo-se à cozinha.
- Comeste? E o que comeste? – perguntou-lhe a mãe
desconfiada.
- Cereais…- respondeu e abriu o móvel para tirar os pratos.
- Só isso? Achas que isso te alimenta alguma coisa de jeito?
- Sim mãe, acho.
- Deixa-a Alice, mais fica para nós. – afirmou Josh abrindo
o frigorifico, tirando a garrafa de vinho e pondo-a em cima da mesa.
Enquanto Débora punha a mesa, Aline fazia o jantar e Josh
esperava sentado pelo comer, um longo e forte silêncio se instalou.
- Acabei, vou para o meu quarto. – anunciou Débora.
- Vai lá, e chama o teu irmão para vir comer. – pediu-lhe a
mãe.
Subiu as escadas e dirigiu-se para o quarto do pequeno
Kevin. A porta estava encostada e ela pôde ver o seu irmão de 8 anos, deitado
na cama de barriga para baixo. No meio do silêncio, Débora conseguiu
identificar um soluçar. O seu irmão não estava a dormir, ele estava a chorar.
Lentamente, ela abriu a porta e entrou. Devagar,
aproximou-se da cama do irmão e sentou-se.
- Então Kevin? – perguntou fazendo-lhe uma festa na cabeça.
Débora não obteve resposta, em vez disso, ouviu um soluçar e uma respiração
mais profunda. Ela estava a desesperar, não sabia o que se passava com o seu
pequeno e partia-lhe o coração vê-lo assim e não puder ajudar – Que se passa
contigo? Fala com a mana Kevin.
Kevin virou-se de barriga para cima, e ainda a chorar,
encarou a irmã.
- Eu ouvi…- disse entre soluços.
- Ouviste o quê?
- A vossa conversa…
- Qual conve…Ah…
- Mana, vamos mesmo ter que ir embora? Para outro país?
Débora não estava à espera que o seu pequeno lhe fosse fazer
aquela pergunta.
- Kevin, a mana não sabe. Mas…eu espero que não. – mentiu,
mentiu ao irmão e com vontade de acreditar na sua própria mentira.
- Oh mana, eu tenho muito medo. Eu não quero ir embora, não
quero deixar os meus amigos.
- Oh meu amor, a mana sabe, a mana sabe. – disse-lhe
puxando-o para si num abraço apertado.
Débora sentia-se no mesmo estado que o irmão, só lhe
apetecia chorar, gritar, espernear e acima de tudo, correr dali para fora, ir
ter com o Zayn e dizer-lhe tudo, contar-lhe toda a verdade sobre o que realmente
sentia por ele.
Mas ela não podia, ela não queria estragar a maravilhosa
amizade que eles tinham, ainda por cima logo agora, que estava prestes a ser
obrigada a abandoná-lo.
- Vá Kevin, agora tens que ir jantar se não os pais ficam
chateados. – disse-lhe enxugando as lágrimas do irmão com os seus dedos.
- Está bem…mas não contes aos pais que estive a chorar por
causa disto. – pediu-me com carinha de cachorro abandonado.
- Claro que não, mas tens que ir lavar essa carinha.
- Está bem. Até já mana, adoro-te. – disse dando-lhe um
abraço apertado.
Débora sentiu-se bem, muito bem. Ela amava o irmão, e
adorava quando ele a abraçava e desabafava com ela. Ele era o seu menino, a sua
jóia.
Levantou-se da cama do irmão e seguiu para o seu quarto.
Estava cansada e a morrer por dentro. Sentia o seu coração a partir-se aos
bocadinhos e sentia a sua alma gritar pelo Zayn.
Sabia que ele agora estava feliz, que ele confiava nela e
acreditava realmente que ela ia lá estar com ele nas audições e em tudo o que
ele precisasse, e na verdade ela realmente estaria, em pensamento, porque em
pessoa ela já não tinha tanta certeza disso.
Estava cheia de medo de qual seria a reacção dele quando
soubesse que ela iria partir, partir para outro país e quem sabe nunca mais
voltar. Provavelmente ele nunca mais a iria perdoar, nunca a iria perdoar por o
abandonar, quem sabe na melhor etapa da sua vida.
Deitou-se na sua cama e agarrada à almofada começou a
chorar. De tão cansada que estava acabou por se deixar dormir cinco minutos depois,
tal e qual como estava.
Sem comentários:
Enviar um comentário