Débora encontrava-se num quarto de hospital, rodeada de
pessoas que como ela se encontravam deitadas em macas. Ela estava confusa, não
se lembrava de muito e nem sabia ao certo o que tinha acontecido. Estava com
ambos os pulsos protegidos por ligaduras e tinha um tubo com soro espetado no
seu braço.
Do que havia acontecido, ela só se recordava de se estar a
cortar, sentir muita dor, ouvir a voz de Zayn a chamar por ela e por fim,
apagar. Débora estava realmente assustada, pois agora os seus pais e Zayn já
sabiam toda a verdade, o que ela fazia cada vez que se fechava na casa de
banho.
Com tudo isto, ela já se havia esquecido que no final do
Verão teria que ir embora. Só esperava que os seus pais ainda não tivessem
falado sobre esse assunto com o Zayn, pois queria ser ela a fazê-lo, mais
tarde, bem mais tarde…
Desgastada, deixou a cabeça cair para trás e começou a
pensar, a pensa em tudo, como iria ser a sua vida dali para a frente…e quando
fosse para Portugal? O que seria realmente dela, quando já não tivesse mais o
Zayn para a proteger?
Enquanto ela pensava e olhava distraída para a janela
daquele quarto, sentiu alguém do outro lado, colar os lábios ao seu pescoço e
ali depositar um beijo delicado. Não precisou de se virar para saber de
imediato quem era. S
Sem se aperceber, um enorme sorriso se abriu no seu rosto.
Ela sabia que o que estava por vir, seria provavelmente um sermão, mas senti-lo
ali, com ela, era a melhor sensação do mundo.
- Que susto! – desabafou Zayn por fim e virando o rosto dela
para ele – Nunca mais me faças uma coisa destas, nunca mais! Ouviste?!
- Sim…- respondeu fininho baixando a cabeça.
- Debby…Débora…olha para mim…- pediu colocando a sua mão no
queixo dela – tu não tens noção do susto que eu apanhei…eu tive tanto, mas
tanto medo de te perder amor!
Num impulso, Débora abraçou-o. Ali estava a prova que ela
precisava para confirmar que ele era de facto perfeito.
Zayn, sem a querer magoar, apertou-a mais contra si. Ele
precisava de saber que aquilo era verdade, que ela estava mesmo ali com ele,
que ele não a tinha perdido.
Naquele momento, Zayn não sabia ao certo o que se estava a
passar com ele, mas a enorme vontade dele era de a beijar, ali, naquele
momento. Tentou controlar-se o máximo que podia e apertou-a ainda mais contra
si.
- Auch, Zayn estás a magoar-me. –disse a rir-se.
- Ups, desculpa princesa, só precisava de saber que isto é
real e de te ter bem junto a mim. – afirmou e em seguida beijou-lhe a testa.
- Zayn eu…não sei que se passa comigo…mas eu não suporto
pensar que estou cada vez mais gorda e…
- Shiu…shiu…eu sei, eu sei amor, não digas nada. –
interrompeu-a – vai ficar tudo bem, vais ver.
- Eu só espero que sim Zayn, espero mesmo…Quando é que eu
vou poder ir embora daqui?
- Eu não sei – encolheu os ombros – Olha, os teus pais
também querem vir, vou dar-lhes a vez, sim amor?
- Mas eu não quero que te vás embora.
- Eu não vou embora totó, vou só um bocadinho lá para fora
para, pelo menos a tua mãe puder vir – beliscou-lhe o nariz carinhosamente –
vá, até já parvinha – beijou-lhe a testa e saiu.
Era por estas e por outras que Débora tanto o amava. Aquele
rapaz era bastante importante para ela e cada vez que se lembrava que iria ter
que o abandonar o seu coração partia-se em mil bocadinhos.
Débora olhou bem à sua volta e viu o quanto as pessoas
sofriam ali, deu-lhe uma enorme vontade de chorar.
- Filha…- assustou-se ao ser surpreendida por um abraço
apertada da mãe – que susto que me pregaste.
- Desculpa mãe…- pediu sincera.
- Oh meu amor, tu não tens que me pedir desculpa, não a
mim…tu tens que pedir desculpa a ti própria…como te sentes?
- Eu…eu sinto-me bem…digo, normal…- de repente lembrou-se de
algo e entrou em pânico – Mãe…Mãe por favor diz-me que não falaram nada sobre
ir para Portugal ao Zayn, por favor…
- Não filha, não falámos…mas, mais cedo ou mais tarde, ele
terá que saber.
- Pois, e eu…prefiro que ele saiba mais tarde mãe.
- Mas meu amor, ele tem que saber, se não ele vai ficar
chateado contigo porque não lhe confias-te isso.
- Mãe, ele irá ficar chateado comigo de qualquer das
maneiras…eu vou abandoná-lo…e assim sempre fica chateado quando já nem tivermos
oportunidade de estarmos juntos…
- Oh Débora, não penses assim…
- Mãe, é a minha opção, aceite-a por favor…
- Eu aceito filha, claro que aceito, não tenho outro
remédio.
- Obrigada…
- Bem…o médico teve a falar connosco e ele acha conveniente
que consultes um pscicólogo…
- Um quê?! Nem penses mãe! Eu não quero ir para psicólogo
nenhum…não estou maluca! – falou revoltada.
- Débora, um psicólogo não é mesma coisa que um psiquiatra.
Um psicólogo é alguém com quem tu podes falar, desabafar, alguém que talvez te
vá fazer sentir melhor e…
- Mãe, não sou nenhuma criança, eu sei perfeitamente o que é
um psicólogo e não…eu não quero. Para além do mais, nós vamos para Portugal não
tarda muito e…
- Ainda tens dois meses pela frente filha.
- Mãe…esquece! Eu estou bem e prometo que nunca mais volto a
fazer aquilo…acho que…aprendi a lição com isto.
- Prometes mesmo?
- Prometo mãe, bolas…
- Eu tive tanto medo de te perder filha…
- Por amor de deus mãe, foram apenas uns cortes e…
- E…apenas uns cortes? Por amor de deus digo eu…mas,
enfim…convence o teu pai e logo veremos.
- Está bem…quando é que posso ir embora?
- Amanhã.
- OQUÊ?! PORQUÊ?!
- Porque sim, eles dizem que tens que ficar esta noite de
vigia, para precaução e para o caso dos pontos rebentarem.
- Fogo, que estupidez.
- Não é estupidez nenhuma e eu vou ficar cá contigo…
- Fogo mãe…Olha, desculpa-me mas, podes sair um bocadinho,
quero ficar sozinha e…
- Mas está aqui tanta gente, nunca irias ficar sozinha.
- Mãe, por favor, tu percebes-te.
- Está bem filha, vá, até já. – depositou-lhe um beijo na
testa e saiu.
Ela estava completamente revoltada, a cada momento mais e
mais. Agora era assim? Pensavam que ela era uma maluca suicida? Poças, ela
apenas se cortava para esquecer a dor psicológica mas nada de mais, tanta gente
que fazia tal coisa só que daquela vez correu mal.
E, ainda por cima teria que passar uma noite ali, num
hospital, cheio de pessoas doentes e tristes, porque sim, era triste ver
pessoas a sofrer, era horrível e essa era uma das coisas que faziam Débora ter
vontade de chorar.
Enquanto Débora se sentia deprimida a olhar ao seu redor, na
sala de espera do hospital, os seus pais e Zayn permaneciam em silêncio.
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