expr:class='"loading" + data:blog.mobileClass'>

terça-feira, 31 de julho de 2012

17º Capítulo



Débora e Patrícia permaneceram abraçadas e com as lágrimas a escorrem-lhes pelo rosto uns longos minutos, sem que uma única palavra fosse trocada.
 Patricia levantou-se da cama, secou as lágrimas e Débora repetiu o gesto.
- Eu não sei o que fazer Pathy…- Débora falou por fim.
- Tens que…contar-lhe Debs…
- Não! Não, não, não! Não posso…
- Mas porquê? O que pretendes fazer? Fingir que está tudo bem, até ao dia em que te fores embora, não lhe dizes nada e pronto, simplesmente vais sem te despedires dele?
- Não, claro que não…no dia em que me for embora, eu falo com ele…deixou-lhe uma carta, algo.
- Débora, as coisas não são assim. Vais magoá-lo, vais magoá-lo tanto! Eu não posso permitir isso, desculpa, mas ele é meu irmão…
- Não Patricia, por amor de deus não lhe contes! Eu sei que ele é teu irmão, mas, mas…se eu lhe contar ele…ele nunca mais vai falar comigo, nunca mais me vai querer ver à frente!
- Isso não pode ser assim! Obvio que ele vai falar contigo, mas a partir do momento em que lhe mentes, em que lhe escondes isto, é normal que ele vá ficar chateado, fulo! Ele ama-te, ele ama-te tanto, ele daria tudo por ti, e é assim que lhe agradeces?
- Não Pathy, não digas isso, o meu coração já está desfeito em demasiados pedacinhos…
- Tu não percebes? Ele não te ama como uma irmã, ele…ele está apaixonado por ti Débora, sempre esteve, e eu…eu sempre soube, sempre consegui decifrar isso dos seus olhos, mas ele…ele descobriu à pouco tempo. Ele é meu irmão gémeo, e eu conheço o meu gémeo…tu vais magoá-lo, e eu não posso simplesmente deixar que isso aconteça, não está certo, ele não merece isso, não depois de tudo aquilo que tem feito por ti…
Débora não sabia mais o que havia de dizer. Patrícia estava certa, completamente, mas ela, ela não conseguia simplesmente chegar ao pé de Zayn e dizer-lhe que o ia abandonar.
- Eu…eu devia de ir embora…- disse por fim pondo-se de pé e seguindo até à porta. Patricia foi até ela e agarrou-lhe no braço.
- Não, não vais a lado nenhum! Débora….vais contar-lhe? Promete-me que vais…
- Eu não…não posso prometer isso…
- Porque não? É assim tão difícil?
- Tu não sabes o quão difícil é…não fazes a mínima ideia, a mínima ideia do quanto dói, do quanto dói saber que…que não tens escolha, não te dão sequer opção, o quanto dói seres obrigada a afastar-te de tudo, de todos, daquele que mais amas, daquele que sempre desejas-te que ficasse a abraçar-te para sempre. Eu…eu nunca pedi nada disto…nunca ninguém me perguntou aquilo que eu na verdade queria…nunca! – Débora começara a chorar novamente, e Patricia que já lhe largara o braço acompanhou-a – e sabes o que é que eu diria, aqui e agora se me perguntassem oque eu queria? Neste exacto momento? – Patricia abanou a cabeça para que ela continuasse – Eu diria com toda a certeza que…que queria desaparecer, morrer…- o choro alargou-se de ambas as partes – Até há cinco anos atrás, eu era simplesmente uma miúda, uma miúda miserável que era gozada por todos, gozada pela sua forma física, eu passava a vida sozinha, a chorar por todos os cantos…eu nunca, nunca havia sentido na verdade, nunca havia provado o sabor da felicidade por muito tempo, mas isso, isso até conhecer aquele que mudou tudo, que mudou a minha vida, que me tornou numa melhor pessoa, ele, o teu irmão…Ele chegou lá como que caído do céu, na minha vida, ele salvou-me, salvou-me do buraco negro em que eu estava presa e eu, eu nunca mais havia voltado para esse buraco negro, nunca mais, até agora, até ao dia em que o meu pai me contou que…que eu tinha que partir, para sempre…para longe dele, para longe do meu herói! – Débora não aguentou e deixou que os seus joelhos caíssem até ao chão como um objecto cai de cima de um balcão alto e se parte em mil pedaços. Toda a força que ela havia reunido dentro de si para desabafar tudo aquilo com Patricia, havia agora desaparecido, e ali, naquele momento, dentro dela, apenas restava uma alma frágil, quase vazia e totalmente perdida.
Na verdade, Patricia acabara por ficar igualmente perdida, perdida nos seus pensamentos. Débora estava a meter-lhe dó, toda aquela história, ela sabia que era verdade, mas…ouvi-la contada assim, pela própria Débora, era diferente, tornava a história ainda mais forte, mais…sentida. Ela não queria ver o irmão sofrer, não queria vê-lo a magoar-se, não queria que ninguém, nem mesmo a Débora o magoasse , mas ela também não queria magoar Débora, pois ela já estava demasiado magoada e…e com todos aqueles últimos acontecimentos, a automutilação , ela tinha medo, tinha medo que Débora cometesse qualquer outra loucura.
À sua frente, de joelhos no chão, encontrava-se uma pessoa que estava a sofrer, a sofrer muito e que na verdade não merecia, não merecia nada daquilo, não merecia sofrer assim, ninguém merecia…
Patricia não teve outra opção se não ajudá-la.
- Não fiques assim Débora, por favor…eu…eu não conto nada ao Zayn, por mais que me custe, eu não vou contar, porque…tu já sofreste tanto e…eu não vou contar, podes ficar descansada. Se algum dia estiveres preparada para seres tu a fazê-lo, eu vou estar lá para te apoiar, mas até esse dia, eu vou ficar calada, podes confiar.
- A…a sério? Eu sei que…ele é teu irmão e que…não te devia de pedir isto, mas… eu simplesmente não consigo, não tenho mais forças para sofrer ainda mais, isto já é doloroso o suficiente. Eu…eu tenho a certeza que ele vai…esquecer-me – ao dizer aquela palavra, o seu coração quase parou de bater e um nó foi formado na sua garganta – vai encontrar alguém, vai conhecer pessoas melhores que eu e que vai ser feliz...e esteja eu onde estiver, ele vai sempre puder contar comigo.
- Ele nunca te vai esquecer Débora, disso podes ter a certeza! Ele era uma pessoa tão diferente, até te conhecer. Não foi só ele que mudou a tua vida, tu mudas-te a dele. Ele era um miúdo que fumava muito, que…ele desgraçava-se e ainda era tão novo, e então…então tu apareces-te e tornaste-o numa pessoa melhor, tornaste-o no “homem” em que ele hoje é. Tenho a certeza de que quando te fores embora, uma boa parte desse homem vai contigo.
Aquela não era altura para se sentir feliz, mas Débora sentiu, ela sentiu-se feliz, por Patricia lhe ter dito aquilo, lhe ter dito que ela o havia tornado numa melhor pessoa.
- Agora vá, vamos limpar estas lágrimas e vamos lá para baixo ter com ele. Esta conversa nunca aconteceu.
- Qual conversa? – Débora perguntou e sorriu fraco em seguida.
- É isso…Amanhã é um grande dia para ele, e nós vamos lá estar para apoiá-lo.
- Claro que vamos. Ao menos, ainda tenho oportunidade para estar ao lado dele nisso. Ele tem uma voz incrível, vai arrasar, tenho a certeza.
- O meu irmão ainda vai ser a próxima grande estrela do UK, escreve aquilo que te estou a dizer.
- Do UK? A próxima grande estrela internacional! – Débora afirmou sorridente e chocou a mão na de Patrícia.
Débora levantou-se do chão, recompôs-se, limpou o rosto, ambas deram um forte abraço e saíram do quarto.

Sem comentários:

Enviar um comentário