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terça-feira, 31 de julho de 2012

18º Capítulo



Quando Patricia e Débora saíram do quarto, repararam que a porta do quarto de Zayn estava aberta e ele estava lá, deitado na cama de barriga para cima a olhar para o tecto e com os fones nos ouvidos.
- Então, já fizeste o jantar? – perguntou Patricia entrando de rompante no quarto dele, seguida por Débora.
- Sim! – afirmou assim que deu pela presença das duas e retirou um fone do ouvido. – Estava a ver que a vossa conversa nunca mais acabava.
- Hã? Ahm…como assim? – perguntou Débora confusa olhando para Patricia. Será que…será que ele havia ouvido a conversa dela será que ele…não, não podia.
- Sim, demoraram tanto tempo ali fechadas no quarto! Raparigas…- afirmou e em seguida atirou uma almofada para cima de cada uma delas.
Ambas respiraram de alivio ao perceber que ele não havia escutado a conversa.
- Bem, já podemos ir jantar ou quê? Estou faminta! – afirmou Patricia esfregando as mãos uma na outra.
Após isso, os três saíram do quarto e dirigiram-se para a sala de jantar. Já praticamente toda a família Malik se encontrava à mesa.
- Boa noite a todos! – desejou Débora que ainda não havia visto os pais de Zayn naquele dia.
- Boa noite! – responderam e em seguida os três sentaram-se.
- Então filho, preparado para amanhã? – perguntou Yasser.
- Acho que sim pai, acho que sim. – respondeu Zayn um pouco nervoso.
Não sabia se as outras pessoas notaram isso, mas Débora havia notado que Zayn estava estranho, muito. Ela estava com medo, apavorada só de pensar no facto que talvez ele tivesse ouvido a conversa dela com Patricia. E se ele ouvira? Oh meu deus, ela não queria pensar nisso, mas…iria ele fingir que não tinha ouvido nada? Não lhe parecia, mas aquela ideia não lhe saia da cabeça. E para além disso, ela sentia, sentia que algo se passava, que ele não estava bem e ela queria saber, queria muito saber o que era para puder ajudá-lo, mas ela nem tinha o direito de saber, não depois de esconder tudo aquilo dele e ainda pedir que a sua irmã guarde segredo dele.
Zayn sentia-se estranho, o seu estomago dava voltas e voltas, era como se todos os nervos lhe estivessem a vir à flor da pele. Seria aquilo por causa da audição que o esperava no dia seguinte? Provavelmente, ou então era aquele desejo, aquele desejo que o consumia, aquele desejo, aquela vontade de a agarrar, de beijá-la, de contar ao mundo que a queria, de agarrar nela e levá-la dali para fora, de fugir com ela para um mundo onde existissem apenas os dois. Um mundo onde nada os impedisse de serem felizes juntos, onde medos e teimosias não existissem, um mundo deles, apenas dele e dela. Infelizmente, tudo isso não passava de desejos, simples desejos que o consumiam dia após dias mas que a seu ver, nunca se poderiam vir a tornar realidade. Ela…ela não sentia o mesmo, ela via-o apenas como um irmão, ela já o havia avisado, não valia a pena continuar a pensar no assunto, mas ele simplesmente não conseguia evitar, ele amava-a, amava-a muito. Pela primeira vez, ele estava realmente apaixonado, apaixonado pela sua melhor amiga e não sabia o que fazer, sentia-se perdido.
O jantar foi praticamente passado em silêncio e logo após a sobremesa, que Débora se recusou a comer e todas a repreenderam, Zayn e Débora subiram para o quarto.
- Zayn…- Débora chamou a sua atenção assim que entraram no quarto.
- Sim?
- Nunca mais me mostraste desenhos teus. – afirmou sentando-se na cama dele – Não tens desenhado?
- Tenho…mas, ultimamente não tem calhado mostrar-te. Espera ai! – disse-lhe e dirigiu-se para a secretária onde se encontrava o computador e uma imensidão de coisas. Pegou num caderno e sentou-se ao lado de Débora – Toma, ai estão os meus mais recentes desenhos.
Débora agarrou no caderno cuidadosamente e abriu-o. A cada desenho que passava, ela ficava ca vez mais fascinada. Zayn era um rapaz super talentosa, e aqueles dons haviam lhe sido concebidos por alguma razão, porque ele merecia, porque ele era uma pessoa maravilhosa, porque ele era o melhor amigo eu se podia ter e com certeza seria o melhor namorado do mundo. Débora dava por si todos os dias a pensar nele, e em como a sua futura namorada seria tão sortuda em tê-lo. Ele era tudo aquilo que ela desejava num rapaz, ele não era um rapaz de sonho, não para ela. Para ela, ele era o sonho, o seu sonho.
A sua boca abriu-se num “O” quando viu um desenho seu, um desenho seu a dormir na cama de Zayn e estava com os cabelos, pareciam despenteados.
- Quando foi isto? – perguntou rindo do desenho, do seu cabelo.
- Ah, isso foi naquele dia em que vieste aqui ter, no dia em que o teu pai…
- Ah, sim, já me lembro. No dia em que me ataste o cabelo de uma maneira qualquer, não foi?
Ambos riram, riram com imensa vontade. Aquilo sabia tão, mas tão bem para os dois.
Após ver todos os desenhos, que estavam fascinantes, assim como tudo aquilo que ele fazia, Débora fechou o caderno, pousou-o em cima da cama e olhou para Zayn. Zayn olhou para ela e os seus olhares cruzaram-se, como muitas vezes acontecia e eles simplesmente sorriam um para outro, mas agora, agora era diferente, eles não sorriram. Após os seus olhares se cruzarem, ambos sentiram uma conexão, uma enorme conexão, uma conexão diferente daquelas que costumavam sentir. Aquela conexão estava a fazer com que os seus rostos se aproximassem cada vez mais, e mais, até que as suas testas se tocaram.
Débora estava a ficar demasiado nervosa e confusa com o que estava a acontecer, como se previsse o que estava por vir e ela não queria isso, ela não queria, criar ou sequer dar-lhe esperanças.
- Estás…hum…nervosos, não estás? – perguntou sem pensar, para quebrar o gelo – Digo, por causa da audição.
- Ahn? S-sim…- Zayn havia acordado do seu transe e havia-se apercebido que o beijo que ele ansiava não havia acontecido. Sentira como que uma faca lhe cravava o coração. Ela não gostava mesmo dele, não da mesma maneira que ele gostava dela e isso doía-lhe tanto, mas tanto. Sem pensar, desencostou a sua testa dela.
- Vai correr tudo bem, eu tenho a certeza. Tu és lindo e tens uma voz linda e ninguém será capaz de te dar um não! Escreve o que te digo. – Débora afirmou e fez-lhe um pequeno carinho rosto.
- Ahm…gosto tanto de ti. – Zayn disse simplesmente e logo em seguida deu-lhe um pequeno beijo nos lábios, sim, daqueles pequenos beijos normais, que eles costumavam dar enquanto melhores amigos – Anda aqui. – bateu com a mão na cama para que ela se fosse deitar no meio das suas pernas e ela assim o fez.
Débora sentou-se no meio das pernas de Zayn e encostou a cabeça no seu peito. Como aquilo sabia bem. Quantas saudades, ela não tinha daqueles momentos, daqueles momentos que eles tiveram assim.
- Tinha saudades disto! – afirmaram os dois como que um coro bem ensaiado e em seguida riram. Zayn beijou o topo da sua cabeça e envolveu os seus braços à volta da cintura dela apertando-a num abraço por fim.
- Sou um sortudo em ter-te ao meu lado, sabias? – ele perguntou-lhe ainda abraçado a ela enquanto olhava para o tecto.
- A única sortuda aqui sou eu…- Débora afirmou por fim. Como é que ele podia dizer que o sortudo era ele por a ter, se na verdade ela o ia abandonar, ele ia abandoná-lo e ainda estava a mentira. Odiava-se tanto por isso. – A maior parte dos casos de melhores amigos, eles batem-se, digo, na brincadeira, andam sempre as turras e nós…nós somos tão diferentes.
- Nunca ouviste falar em edição limitada? Então, é isso que somos. Eu gosto bastante de ser diferente, e tu…tu podes ter a certeza que és diferente, diferente de qualquer outra pessoa que ande por aí…tu és especial. És…a minha especial. – confessou Zayn por fim.
Débora mais nada disse, limitou-se a abanar a cabeça num gesto afirmativo e fechou os olhos, deixando-se embalar pelo som da respiração de Zayn que batia na sua cabeça, bem encostada no peito dele.


17º Capítulo



Débora e Patrícia permaneceram abraçadas e com as lágrimas a escorrem-lhes pelo rosto uns longos minutos, sem que uma única palavra fosse trocada.
 Patricia levantou-se da cama, secou as lágrimas e Débora repetiu o gesto.
- Eu não sei o que fazer Pathy…- Débora falou por fim.
- Tens que…contar-lhe Debs…
- Não! Não, não, não! Não posso…
- Mas porquê? O que pretendes fazer? Fingir que está tudo bem, até ao dia em que te fores embora, não lhe dizes nada e pronto, simplesmente vais sem te despedires dele?
- Não, claro que não…no dia em que me for embora, eu falo com ele…deixou-lhe uma carta, algo.
- Débora, as coisas não são assim. Vais magoá-lo, vais magoá-lo tanto! Eu não posso permitir isso, desculpa, mas ele é meu irmão…
- Não Patricia, por amor de deus não lhe contes! Eu sei que ele é teu irmão, mas, mas…se eu lhe contar ele…ele nunca mais vai falar comigo, nunca mais me vai querer ver à frente!
- Isso não pode ser assim! Obvio que ele vai falar contigo, mas a partir do momento em que lhe mentes, em que lhe escondes isto, é normal que ele vá ficar chateado, fulo! Ele ama-te, ele ama-te tanto, ele daria tudo por ti, e é assim que lhe agradeces?
- Não Pathy, não digas isso, o meu coração já está desfeito em demasiados pedacinhos…
- Tu não percebes? Ele não te ama como uma irmã, ele…ele está apaixonado por ti Débora, sempre esteve, e eu…eu sempre soube, sempre consegui decifrar isso dos seus olhos, mas ele…ele descobriu à pouco tempo. Ele é meu irmão gémeo, e eu conheço o meu gémeo…tu vais magoá-lo, e eu não posso simplesmente deixar que isso aconteça, não está certo, ele não merece isso, não depois de tudo aquilo que tem feito por ti…
Débora não sabia mais o que havia de dizer. Patrícia estava certa, completamente, mas ela, ela não conseguia simplesmente chegar ao pé de Zayn e dizer-lhe que o ia abandonar.
- Eu…eu devia de ir embora…- disse por fim pondo-se de pé e seguindo até à porta. Patricia foi até ela e agarrou-lhe no braço.
- Não, não vais a lado nenhum! Débora….vais contar-lhe? Promete-me que vais…
- Eu não…não posso prometer isso…
- Porque não? É assim tão difícil?
- Tu não sabes o quão difícil é…não fazes a mínima ideia, a mínima ideia do quanto dói, do quanto dói saber que…que não tens escolha, não te dão sequer opção, o quanto dói seres obrigada a afastar-te de tudo, de todos, daquele que mais amas, daquele que sempre desejas-te que ficasse a abraçar-te para sempre. Eu…eu nunca pedi nada disto…nunca ninguém me perguntou aquilo que eu na verdade queria…nunca! – Débora começara a chorar novamente, e Patricia que já lhe largara o braço acompanhou-a – e sabes o que é que eu diria, aqui e agora se me perguntassem oque eu queria? Neste exacto momento? – Patricia abanou a cabeça para que ela continuasse – Eu diria com toda a certeza que…que queria desaparecer, morrer…- o choro alargou-se de ambas as partes – Até há cinco anos atrás, eu era simplesmente uma miúda, uma miúda miserável que era gozada por todos, gozada pela sua forma física, eu passava a vida sozinha, a chorar por todos os cantos…eu nunca, nunca havia sentido na verdade, nunca havia provado o sabor da felicidade por muito tempo, mas isso, isso até conhecer aquele que mudou tudo, que mudou a minha vida, que me tornou numa melhor pessoa, ele, o teu irmão…Ele chegou lá como que caído do céu, na minha vida, ele salvou-me, salvou-me do buraco negro em que eu estava presa e eu, eu nunca mais havia voltado para esse buraco negro, nunca mais, até agora, até ao dia em que o meu pai me contou que…que eu tinha que partir, para sempre…para longe dele, para longe do meu herói! – Débora não aguentou e deixou que os seus joelhos caíssem até ao chão como um objecto cai de cima de um balcão alto e se parte em mil pedaços. Toda a força que ela havia reunido dentro de si para desabafar tudo aquilo com Patricia, havia agora desaparecido, e ali, naquele momento, dentro dela, apenas restava uma alma frágil, quase vazia e totalmente perdida.
Na verdade, Patricia acabara por ficar igualmente perdida, perdida nos seus pensamentos. Débora estava a meter-lhe dó, toda aquela história, ela sabia que era verdade, mas…ouvi-la contada assim, pela própria Débora, era diferente, tornava a história ainda mais forte, mais…sentida. Ela não queria ver o irmão sofrer, não queria vê-lo a magoar-se, não queria que ninguém, nem mesmo a Débora o magoasse , mas ela também não queria magoar Débora, pois ela já estava demasiado magoada e…e com todos aqueles últimos acontecimentos, a automutilação , ela tinha medo, tinha medo que Débora cometesse qualquer outra loucura.
À sua frente, de joelhos no chão, encontrava-se uma pessoa que estava a sofrer, a sofrer muito e que na verdade não merecia, não merecia nada daquilo, não merecia sofrer assim, ninguém merecia…
Patricia não teve outra opção se não ajudá-la.
- Não fiques assim Débora, por favor…eu…eu não conto nada ao Zayn, por mais que me custe, eu não vou contar, porque…tu já sofreste tanto e…eu não vou contar, podes ficar descansada. Se algum dia estiveres preparada para seres tu a fazê-lo, eu vou estar lá para te apoiar, mas até esse dia, eu vou ficar calada, podes confiar.
- A…a sério? Eu sei que…ele é teu irmão e que…não te devia de pedir isto, mas… eu simplesmente não consigo, não tenho mais forças para sofrer ainda mais, isto já é doloroso o suficiente. Eu…eu tenho a certeza que ele vai…esquecer-me – ao dizer aquela palavra, o seu coração quase parou de bater e um nó foi formado na sua garganta – vai encontrar alguém, vai conhecer pessoas melhores que eu e que vai ser feliz...e esteja eu onde estiver, ele vai sempre puder contar comigo.
- Ele nunca te vai esquecer Débora, disso podes ter a certeza! Ele era uma pessoa tão diferente, até te conhecer. Não foi só ele que mudou a tua vida, tu mudas-te a dele. Ele era um miúdo que fumava muito, que…ele desgraçava-se e ainda era tão novo, e então…então tu apareces-te e tornaste-o numa pessoa melhor, tornaste-o no “homem” em que ele hoje é. Tenho a certeza de que quando te fores embora, uma boa parte desse homem vai contigo.
Aquela não era altura para se sentir feliz, mas Débora sentiu, ela sentiu-se feliz, por Patricia lhe ter dito aquilo, lhe ter dito que ela o havia tornado numa melhor pessoa.
- Agora vá, vamos limpar estas lágrimas e vamos lá para baixo ter com ele. Esta conversa nunca aconteceu.
- Qual conversa? – Débora perguntou e sorriu fraco em seguida.
- É isso…Amanhã é um grande dia para ele, e nós vamos lá estar para apoiá-lo.
- Claro que vamos. Ao menos, ainda tenho oportunidade para estar ao lado dele nisso. Ele tem uma voz incrível, vai arrasar, tenho a certeza.
- O meu irmão ainda vai ser a próxima grande estrela do UK, escreve aquilo que te estou a dizer.
- Do UK? A próxima grande estrela internacional! – Débora afirmou sorridente e chocou a mão na de Patrícia.
Débora levantou-se do chão, recompôs-se, limpou o rosto, ambas deram um forte abraço e saíram do quarto.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

16º Capítulo



Assim como Zayn, Débora também se sentia constrangida com o facto de ir dormir no mesmo quarto que ele, na mesma cama. Não era nada que nunca tivesse acontecido, mas a verdade era que desde aqueles beijos, desde aqueles momentos mais intensos que nenhum dos dois conseguia estar perto um do outro sem terem vontade de se beijar de se agarrar, sem se desejarem um ao outro.
Logo após chegarem a casa de Zayn, Safaa, a sua irmã mais nova veio a correr abraçá-lo.
- Manoooooo! – gritou a pequena.
- Princesa! – sorriu pegando nela ao colo – Já viste quem está aqui?
- Debbyyyyyyyy! – gritou contente!
- Olá minha linda. – disse Débora sorrindo e logo em seguida beijou a sua pequena face.
Na sala, sentadas a ver televisão, encontravam-se todas as restantes irmãs de Zayn, Patricia, Waliyha, a irmã do meio e por fim, Donya, a mais velha.
Zayn pousou Safaa no chão, ele e Débora cumprimentaram as outras irmãs e foram para o quarto dele.
Como já era de esperar, Débora atirou-se para cima da cama de Zayn e refastelou-se.
- Muito gostas tu da minha cama! – afirmou Zayn rindo-se, enquanto se sentava ao lado dela.
- Grande e fofinha! Yuipi! – Débora gritou com voz de criança, pôs-se de pé em cima da cama e começou a pular que nem uma criança.
- Olha, deu-lhe! – Zayn disse rindo, olhando para a melhor amiga que saltava que nem uma louca em cima da sua cama e fazia-lhe gestos para que ele se juntasse a ela. Sem pensar duas vezes, Zayn pôs-se de pé em cima da sua própria cama e acompanhou Débora naquela brincadeira infantil.
A verdade, era que aquela poderia ser até a brincadeira mais infantil de sempre, mas quando os dois estavam juntos, a sorrir e a divertir-se, nada mais importava, apenas eles e ambas as felicidades. Ali, os dois estavam a ser felizes, na companhia um do outro.
Depois de pularem energéticos por longos minutos, ambos perderam as forças e acabaram por cair deitados na cama a rirem-se que nem dois loucos, dois loucos apaixonados que por culpa dos medos e da teimosia não admitiam isso.
Só Zayn sabia a vontade que tinha de beijá-la, agarrá-la e tomá-la nos seus braços ali mesmo, porém, não podia, não queria estragar a bonita amizade que ambos tinham, não podia estragar aquela…irmandade.
- Posso? – perguntou Patricia aparecendo na porta do quarto e Zayn afirmou abanando a cabeça – Ora bem, que andam os meninos a fazer?
- Estávamos a pular na cama! – afirmou Débora rindo logo em seguida.
- Ahhhhh então era daí que vinham aqueles barulhos estranhos! – constatou Patricia rindo-se e fazendo-os rir com ela – Zayn, a mãe pediu que fosses tu a fazer o jantar.
- Ok, ninguém resiste aos meus cozinhados mesmo! – afirmou fazendo ar superior.
- Até parece! – disse Débora rindo.
- Bem, e tu Debs, vens comigo. Quero falar contigo, já não falamos as duas há muito tempo! – disse Patricia agarrando na mão dela e arrastando-a para fora do quarto – Até já maninho!
- Até já parvinhas! – disse Zayn enquanto seguia atrás delas para fora do quarto e se dirigia para a cozinha.
Assim que chegaram ao quarto de Patricia, esta fechou a porta rapidamente, empurrou Débora para que se sentasse na sua cama e fez o mesmo.
- Agora minha menina, vais contar-me o que se passa entre vocês! – disse Patricia fazendo um ar maroto.
- Ahn? Entre quem? – Débora fez-se de desentendida.
- Não te faças de parva Debby, que isso é coisa que tu não és! Vá, anda lá!
- Eu…não estou a perceber.
- Oh, por favor, eu vi-vos no outro dia, no dia em que dormiste cá e que era suposto irmos ao shopping, eu vi-vos, vi-vos lá em baixo na sala, a…hum…beijarem-se…
- Oh, não…
- Não tens como negar! Conta-me, que se passa?
- Nada, não se passa simplesmente nada…
- Como não? Vocês gostam um do outro, isso está na cara!
- Nós gostamos muito um do outro, mas simplesmente como irmãos, esses beijos foram apenas pequenos impulsos do momento…
- Espera aí…esses? Quer dizer que se beijaram mais do que uma vez? – Patricia perguntou perplexa.
- Não, eu não disse isso eu…
- Disseste!
- Eu…- Débora não sabia mais o que dizer, estava prestes a explodir, o seu coração batia a mil e a sua vontade era contar tudo, dizer a Patricia toda a verdade, mas…mas ela era irmã, era gémea daquele que ela amava, ela nunca poderia manter aquele segredo, guardar aquilo do seu irmão.
- Tu…- Patricia incentivou-a para que continuasse e isso fê-la virar a cara para o lado oposto e deixar com que pequenas lágrimas começassem a brotar dos seus olhos. Patricia reparou nesse gestos e imediatamente a abraçou sem pensar. Débora começou a chorar mais, muito mais. – Algo não está bem Debby, fala comigo, conta-me, eu também sou tua amiga, podes contar comigo fofinha, tu sabes…- Patricia disse-lhe, após quebrar o abraço, pôr-se de joelhos a frente de Débora e limpar as lágrimas da sua face.
- Algo? Se fosse apenas algo...nada, nada está bem Patricia, nada…- desabafou e começou a chorar de novo – Eu Amo-o, eu Amo-o tanto, mas tanto! Não como um irmão…eu Amo-o!
- E…onde é que isso é um problema?
- Tu não percebes…nunca vais perceber, ninguém percebe…
- Eu nunca vou conseguir perceber, se tu não me contares Debs.
Debs…Debs era o apelido que Zayn lhe dera, ele, tudo, tudo se tratava dele, aquele que há cinco anos atrás lhe roubara o coração e sempre o mantivera guardado em silêncio, até ali.
- Eu vou-me embora…
- Não, Debby, não vás. Espera, fala comigo!
- Não Pathy, não estás a perceber…aff…eu vou-me embora, digo, vou-me embora do país, não tenho outra escolha…o meu pai vai ainda esta semana, e deu-nos até ao final do verão para irmos ter com ele…
- C-como? Porquê?
- O meu pai ficou desempregado e não consegue emprego aqui de maneira nenhuma, e em Portugal…
- Portugal?
- Sim…em Portugal, ele tem lá família que já lhe garantiu emprego e um casa…
- O que…o que é que o Zayn disse disto? – perguntou Patricia com pequenas lágrimas a escorrerem por seu rosto. Débora não era apenas amiga de Zayn, ela também era sua amiga e tinha um enorme carinho por ela, por ela fazer o seu irmão gémeo feliz, como fazia.
Débora não respondeu, não tinha como responder aquela pergunta, Patricia iria chamar-lhe de cobarde. Em vez disso, levou as mãos à cara e tapou-a, deixando que cada vez mais, novas lágrimas fossem caindo.
- Espera…ele…ele ainda não sabe pois não? – Patricia perguntou surpreendida e triste.
Mais uma vez, Débora não respondeu. Patricia tinha acertado em cheio e tinha tocado na ferida a cem por cento. O seu coração doeu mais, parecia que ficava mais pequeno a cada respiração profunda. Sem pensar, atirou-se de costas na cama e deixou-se ficar deitada de barriga para cima, a chorar que nem uma desesperada que acabara de perder tudo. Para sua surpresa, Patricia juntou-se a ela, abraçou-a e ficaram ali as duas juntas, a chorar por ele, por Zayn.

domingo, 29 de julho de 2012

15º Capítulo


Faltava um dia para a audição e Zayn estava ansioso e bastante nervoso. Queria estar com ela, queria senti-la do seu lado e saber que tudo iria correr bem.
Assim que acabou de almoçar, lavou os dentes e pôs-se a caminho da casa de Débora.
Estava nervoso por ir vê-la, não era como antes, tudo era diferente desde a descoberta daquele novo sentimento que ele nutria por ela, tudo era estranho e diferente. Nunca se havia sentido assim.
Quando chegou em frente ao portão da casa de Débora, parou durante uns poucos minutos. Sentia-se a tremer por dentro e questionava-se o porquê de tudo aquilo, o porquê de todos aqueles novos sentimentos. Odiava-se por sentir aquilo, odiava-se por ama-la, assim, daquele jeito.
Após recuar o dedo imensas vezes, acabou por tocar à campainha. Nem um minuto e Alice já vinha a abrir a porta.
- Zayn meu querido, entra. – cumprimentou-o.
- Boa tarde Alice. – disse dando um beijo em cada face de Alice.
- Já sei que amanhã vais fazer a audição para o programa das cantorias, muitos parabéns!  - felicitou-o ela.
- É, muito obrigada. Pedi à Débora que viesse comigo, não tem problema, pois não? – Zayn perguntou sem saber porquê. Na verdade, antes de todos aqueles novos sentimentos, ele nunca pedia para levar Débora consigo. Aquilo estava a mexer com tudo, com todos os seus neurónios, com todos os seus actos, com tudo aquilo que ele fazia, aquilo mexia com todo ele.
- Claro que não. Ela já me tinha pedido, eu e o Josh permitimos claramente. Vai ser bom para ela, distrair-se.
- Concordo. – Zayn afirmou sentindo que na frase de Alice, havia um pouco de preocupação, suspense e segredo.
- Bem, ela está lá em cima no quarto, vai lá.
Zayn subiu as escadas num ápice e quando ia a passar pelo quarto de Kevin, deparou-se com este e Débora deitados na cama a fazerem cócegas um ao outro.
- Ora boas tardes! – cumprimentou batendo à porta.
- Zaynnnnnnn! – Kevin gritou contente quando o avistou.
- Chegaste! – disse Débora sorridente.
- É, cheguei. – afirmou retribuindo o sorriso.
- Agora que o Zayn chegou, vais largar-me e eu ganho a batalha das cocegas!
- Olha olha o espertinho. – disse Débora rindo enquanto se punha de pé.
- Vá, vão lá namorar. – após Kevin brincar ao dizer esta frase, Débora e Zayn congelaram por pequenos segundos e logo em seguida sentiram-se ambos constrangidos.
- Muito engraçadinho tudo. – disse Débora sem jeito.
Após aquele momento constrangedor, Débora seguiu na direcção de Zayn, abraçou-o e ele depositou-lhe um beijo na testa. Seguiram para o quarto de Débora deixando Kevin a brincar no seu quarto.
Zayn atirou-se para cima da cama, ficando deitado de barriga para cima e Débora sentou-se do seu lado.
- Então, preparado para arrasar amanhã?
- Nem por isso…
- Então?
- Nervos à flor da pele. – admitiu, mas a verdade era que os nervos não eram apenas por isso.
- Isso é normal, se não tivesses nervoso era sinal que não te importavas, que isso não significava nada para ti.
- Tens razão.
- E que música vais cantar?
- Surpresa princesa!
- Ui que estamos numa de rimas e de suspense hoje.
- Tem que ser.
- E já treinaste bem a música?
- Está mais do que treinada. Olha, queres ir dormir lá a casa hoje? – perguntou Zayn, arrependendo-se logo de seguida. Não que ele não quisesse que ela lá fosse dormir, na verdade ele queria, mas com todos estes novos sentimentos ele iria sentir-se diferente, com toda a certeza constrangido.
- Hum…sim, só tenho que perguntar aos meus pais, mas eles devem de deixar.
- Sério? O teu pai também?
- Sim. Nós já tivemos uma grande conversa sobre tudo o que se tem passado. Sabes, o meu pai arranjou um emprego no estrangeiro, parte daqui a dois dias para Portugal, e nós…- não, ela não conseguia, não estava pronta para magoá-lo, não estava pronta para dizer que o ia abandonar dali a dois meses, não estava pronta para perder aquele que amava – eu, a minha mãe e o meu irmão, ficamos cá. – sorriu fraquinho.
- Por momentos assustaste-me, pensei que me ias deixar. – afirmou Zayn sorrindo aliviado e levando a mão ao peito.
- Achas? Nunca. – mentiu e abraçou-o sem pensar.
Após quebrarem o abraço, desceram para perguntar aos pais de Débora se ela podia ir dormir à casa de Zayn. Com algumas palavras de reprovação por parte de Josh, este e Alice acabaram por deixar por fim.
Débora foi então até seu quarto para pegar uma peça de roupa para vestir no dia seguinte e em seguida despediu-se dos pais e dos irmãos e foram para casa de Zayn.

14º Capítulo


Após almoçar, Débora fora para o seu quarto e deixara-se dormir devido à medicação. O relógio marcava as três e meia da tarde, quando Débora foi despertada por o toque do seu telemóvel. Era Zayn, pois aquele toque era o toque deles. Espreguiçou-se, pegou no dispositivo móvel e atendeu.
- Zayn…- disse com voz de sono.
- Estavas a dormir? – perguntou ele e em seguida deu uma gargalhada.
- Diga-se que sim. – riu-se.
- Desculpa por te ter acordado, mas tenho uma grande novidade! – exclamou entusiasmado.
- Estás à espera do quê para contar?
- Estás preparada? Estás sentada?
- Estou deitada…vá, desembucha Zayn. – disse ansiosa.
- Ok…acabaram de me ligar para… IR ÁS AUDIÇÕES DO X-FACTOR! – gritou por fim.
Após ouvir tal afirmação, Débora não cabia em si de felicidade. Aquele sempre fora o sonho dele e cantar sempre fora uma coisa que o fizera feliz, e se o fazia feliz a ele, fazia feliz a ela.
- OH MEU DEUS! PARABÉNS! QUANDO É?!
- Depois de amanhã! – respondeu entusiasmado.
-Já?
- Pois é, eles avisam sempre em cima da hora, mas oh meu deus! Estou tão ansioso amor!
- Imagino, eu sei o quanto isto é importante para ti, o quanto queres isto. Vou estar sempre aqui para te apoiar, sempre…- disse sentindo o seu estomago embrulhar-se ao dizer a ultima palavra.
- Eu sei princesa, e no dia da audição, quero-te lá comigo.
- Mas isso está mais do que claro. Alguma vez eu perderia isso?
- Bem me parecia que não. – Zayn afirmou e os dois gargalharam – bem, agora vou contar aos meus pais, foste a primeira a saber.
- Awww sinto-me tão honrada. – disse sincera abrindo um largo sorriso.
- Amo-te!
- Amo-te!
Assim que desligou a chamada, Débora voltou a encarar o tecto. Nestes últimos tempos, a coisa que ela fazia de melhor, era mentir-lhe, mentir-lhe dizendo que estaria sempre lá para ele e que o apoiaria sempre, o que em parte era verdade, ela estaria sempre lá para ele, em pensamento, no coração, mas não na realidade e isso doía, doía tanto que se tornava como uma dor física. Matava-a por dentro saber que dentro de 2 meses o iria abandonar e provavelmente, ele nunca mais iria querer falar com ela. E foi ao ter aqueles pensamentos, que Débora se deixou dormir de novo.
Zayn não cabia em si de felicidade. Aquele sempre fora o seu maior sonho, esse e o de ser actor também. Na verdade, ele tinha vários sonhos, quem não tem? Mas aquele, aquele era um dos maiores, dos mais desejados aquela oportunidade seria única, e ele iria aproveitá-la o máximo que pudesse. Teria que escolher a música perfeita para apresentar aos júris, queria surpreende-los, marcar a diferença para que gostassem deles.
Pensou, e a primeira música que lhe veio à cabeça, foi “Let me love you” de Mario, a música que ele costumava cantar para ela, aquela que ela tanto amava ouvi-lo cantar. Estava decidido, seria essa a música.

13º Capítulo


Assim que chegou a casa e abriu a porta, Débora deparou-se com o seu pai sentado no sofá a ver televisão. Ela estava chateada e acima de tudo, magoada com todas as coisas que ele lhe dissera no dia anterior no hospital, então tentou ignorá-lo, mas em vão.
Após dar pela chegada da sua filha, Josh levantou-se imediatamente do sofá e chamou a sua atenção. Desta vez, a sua expressão, não era uma expressão rígida ou zangada, não, a sua expressão, era uma expressão de arrependimento.
- Filha…eu sei que estás magoada comigo, por tudo aquilo que te disse ontem e por tudo aquilo que te tenho dito nos últimos dias, e dou-te toda a razão para assim o estares, mas…eu queria que tu também percebesses o lado do pai, porque tenho andado cheio de problemas e só os quero resolver o mais depressa possível. Sei que te deixa triste o facto de te ires embora e sei o quanto o Zayn significa para ti princesa, mas vai mesmo ter que ser, para o bem de todos nós. O pai já disse que te dava todo o verão para te despedires dele e disto tudo, mas em Setembro, tu a mãe e o mano têm que ir ter comigo a Portugal, está bem? – disse Josh a medo, a medo de ser ignorado pela própria filha que ele havia magoado durante estes dias.
- Eu…eu sei pai e percebo, só que…é difícil, muito difícil ter que deixá-lo pai…- Débora acabou por confessar.
- Eu compreendo, mas vocês continuarão a falar e ele pode sempre ir visitar-nos e tu poderás vir cá, quando estivermos melhor financeiramente.
- As coisas não são assim tão fáceis pai.
- Isso sei eu princesa, mas por vezes, temos que pensar que são, para não nos magoar-mos.
- Verdade…
- E olha Débora…mais uma vez, desculpa o pai, desculpa-me por tudo isto…
- Estás mais que desculpado pai. – Débora afirmou sorrindo.
Josh dirigiu-se a ela e envolveu-a num abraço apertado.
Alice assistia aquela cena emocionada, era fascinante ver duas das pessoas que mais amava assim.
Após quebrarem o abraço, Josh deu um beijo na testa da sua filha e foi cumprimentar Alice.
Débora tinha saudades do seu pequenino, do seu Kevin, outro dos 3 homens da sua vida. Subiu as escadas devagar, devido ao sono que sentia por causa da medicação, e dirigiu-se para o quarto do seu irmão.
Aproximou-se da porta que estava aberta, espreitou silenciosamente. Kevin estava sentado no chão a brincar com os seus carrinhos. Débora bateu à porta levemente.
Kevin virou-se de repente e após se deparar com a irmã ali, levantou-se num ápice, correu até ela e saltou para o seu colo. Débora tinha poucas forças para o conseguir segurar, mas era o seu menino, o seu pequenino, ela tinha que fazer um esforço.
- Manaaaaaaaaaaa! – gritou Kevin contente – Voltaste!
- Voltei! – respondeu sorrindo e pousando-o no chão, para além de não ter muitas forças, Kevin já tinha 8 anos e não pesava pouco.
- Tive medo mana…- disse Kevin encarando o chão.
- Medo do quê Kevin?
- Medo que tu…morresses…- confessou enquanto pequenas lágrimas começavam a brotar dos seus olhos.
- Oh meu doido, anda cá – baixou-se à altura dele e puxou-o para um abraço apertado -  a mana está óptima, foram só uns cortes, já passou.
- Eu sei, mas eu tive tanto medo…- apertou o abraço.
- Gosto tanto de ti Kevin. – disse beijando a sua testa.
- E eu de ti mana. – afirmou e quebraram o abraço.
Após quebrarem o abraço, Kevin voltou a brincar e Débora foi para o seu quarto.
Assim que Zayn chegou a casa, encontrou a sua mãe a dormir deitada no sofá. Provavelmente, havia ficado a ver televisão até tarde na noite anterior e deixara-se dormir. Dirigiu-se ao sofá e depositou um leve beijo na sua testa sem a querer acordar.
Subiu para o seu quarto silenciosamente, provavelmente estariam todos a dormir ainda, visto que o seu pai só trabalhava à tarde e as suas irmãs estavam de férias.
Zayn sentia-se tão confuso, não em relação ao que sentia, pois isso tinha todas as certezas possíveis de que estava completamente apaixonado por ela, mas estava confuso em relação ao porquê, ao porquê de sentir aquilo… Abriu a gaveta da mesinha de cabeceira, pegou no isqueiro e no maço de tabaco que não mexia há semanas e dirigiu-se para a varanda.
Faziam semanas que Zayn não fumava, pois não sentia necessidade disso, apenas quando estava nervoso, ansioso por algo. Esta, era uma ocasião para tal. Débora que sempre tentara impedi-lo de fumar, era agora a razão pela qual ele pegava no isqueiro e acendia um cigarro.
Há algumas semanas atrás, quando fechava os olhos, Zayn não via nada, apenas um vazio no meio de nenhures, mas agora, agora sempre que as suas pálpebras se fechavam, ele via uma imagem, uma imagem que tão bem conhecia, a imagem dela, aquela que ele começava agora a amar de maneira diferente.
Débora, encarava o tecto do seu quarto, enquanto permanecia deitada na sua cama de barriga para cima. Perguntava-se, porque razão ela e Zayn não trocavam mais aqueles pequenos beijos, porque razão os seus lábios não se tocavam como antes, em apenas 1 segundo, para simbolizar aquela tão maravilhosa amizade. A verdade, era que desde aquele primeiro verdadeiro beijo, desde aquele primeiro toque de línguas, desde aquela primeira vez que ambos sentiram os seus corpos fervilhar com o toque um do outro, desde esse dia, que nada entre eles havia sido igual, por mais que eles quisessem ignorar esse facto, essa era a verdade. Ambos se amavam, amavam-se muito mais do que como irmãos, mas nenhum tinha coragem suficiente para admitir isso.

12º Capítulo


Na manhã seguinte, Zayn acordou com uma enorme dor nas costas, pois havia dormindo numa má posição. Levantou.se e espreguiçou-se.
Débora ainda dormia. Zayn olhou-a, tão delicada, tão meiga e frágil.
Sentia-se tão parvo por a ter beijado na noite anterior, não que não tivesse gostado, muito pelo contrário, mas ela não sentia o mesmo por ele e isso matava-o por dentro.
- Que estás tu a pensar Zayn? Ela é a tua melhor amiga, é como uma irmã, sempre foi! – disse para o seu consciente. Continuava a olhá-la, mas olhava-a de uma maneira diferente que costumava olhar, olhava-a de uma maneira cativante, de uma maneira mais protectora, de uma maneira muito mais inexplicavelmente forte.
Devagar, passou a mãe no rosto delicado dela, fazendo uma caricia e dando em seguida um beijo na sua pequena testa.
Não restavam dúvidas, Zayn estava definitivamente apaixonado pela sua melhor amiga.
Ele queria tanto protegê-la, queria tanto senti-la nos seus braços, mas não da maneira do costume. Zayn queria tê-la, não como amiga, não como irmã, Zayn queria tê-la como sua, sua e apenas sua.
Depressa abanou a cabeça na tentativa de afastar aqueles pensamentos que a perseguiam, mas foi em vão, Débora não lhe saia dos pensamentos por nada. O pior, era que na sua mente, pela primeira vez, aqueles sentimentos não eram recíprocos.
Olhou para o relógio no seu pulso, eram nove e meia da manhã. Alice deveria estar prestes a chegar para ir buscá-los.
Zayn, decidiu então acordar Débora cuidadosamente.
Débora abriu os olhos devagar, enquanto sentia leves beijos por toda a face.
- Acorda princesa…- ouviu Zayn pronunciar baixinho.
- Bom dia…- Débora disse devagar ao mesmo tempo que se espreguiçava.
- Dormiste bem? – perguntou e em seguida deu-lhe um leve beijo na testa.
- Sem contar que estamos num hospital, sim, dormi muito bem. – respondeu sorridente. Estava contente, pois estava prestes a sair dali.
- Acho melhor ires vestir-te. – disse-lhe Zayn sorrindo.
- Sim. Mas, onde estão as minhas roupas? – perguntou, apontando para bata branca que tinha vestida, a bata do hospital.
- Dentro dessas gavetas. – respondeu Zayn apontando para a comoda que se encontrava ao lado da maca.
Débora, levantou-se cuidadosamente da maca, abriu a gaveta tirando as suas roupas, que já estavam lavadas e foi vestiu-se mesmo ali, na frente do seu melhor amigo. As cortinas estavam fechadas, e estar seminua na frente de Zayn, não era uma novidade para Débora. Talvez fosse constrangedor para ambos, depois dos recentes acontecimentos, mas a verdade, era que Débora nunca havia deixado de se sentir à vontade na frente dele.
Zayn, agora sentia-se diferente, sentia-se nervoso ao vê-la despir-se na sua frente, sentia-se como se nunca a tivesse visto daquela maneira, o que em parte era verdade, pois ele sempre olhara para ela como uma irmã e vê-la assim, agora, agora que ela significava muito mais que isso, era como se um desejo enorme se apodera-se de si, como se um desejo de a tomar nos seus braços o fosse dominar a qualquer momento. A muito esforço conseguiu controlar-se.
- Estou pronta. – afirmou Débora, acabando de apertar os ténis.
- Então vamos andando lá para fora, ver se a tua mãe já lá está. – disse Zayn e assim foram.
Chegaram à recepção do hospital, e Alice já lá se encontrava a assinar os papeis da alta da sua filha.
- Bom dia mãe. – desejou Débora, dando em seguida um beijo na face de sua mãe.
- Bom dia meu amor – respondeu Alice – Bom dia Zayn. Dormiram bem?
- Sim. – responderam em uníssono sorrindo levemente.
- Pronto, podemos ir embora. – disse após preencher tudo o necessário.
Seguiram para o carro, Débora entrou para o lugar do pendura, Zayn para os lugares de trás e Alice, obviamente, para o lugar de condutor e arrancaram.
- Então Zayn, deixo-te em casa? –perguntou Alice sem tirar os olhos da estrada.
- Ele pode almoçar connosco mãe?
- Deixa estar Debs, não quero dar trabalho e para além do mais, já estou fora de casa há algum tempo, é melhor ir para a minha mãe não ficar preocupada. – respondeu Zayn sorrindo.
- Não dás trabalho nenhum meu querido, mas se achas melhor assim, eu levo-te a casa. – afirmou Alice focando a estrada à sua frente.
O resto do caminho foi passado em silêncio. Zayn e Débora, trocavam olhares cúmplices através do retrovisor a cada minuto que passava, e cada vez que um olhava, o outro desviava o olhar.
Alice estacionou em frente ao portão da casa dos Malik.
- Muito obrigada dona Alice. Debs, ligo-te mais tarde. Amo-te. – deu-lhe um beijo na testa e saiu do carro.
Com Zayn e Débora ainda a acenarem um ao outro, Alice arrancou.
- Não vais mesmo contar-lhe filha? – perguntou Alice, após um longo tempo silencioso.
- Não mãe,  a minha decisão está tomada…- respondeu simplesmente, olhando a rua.
Durante o caminho até casa, mais nenhuma palavra foi pronunciada e apenas a suas respirações e o barulho dos carros foram possível ser ouvidos.

11º Capítulo


Zayn encontrava-se claramente confuso. Primeiro, havia visto Josh sair furioso e minutos depois, vira Alice vir na sua direcção, completamente calma e tranquila.
- Bem, Zayn meu querido, parece que por esta noite és tu a companhia da minha filha – disse sorrindo – Portem-se bem e cuida bem dela, sim?
- Sempre dona Alice, eu Amo a sua filha, é como um irmã para mim. – afirmou.
- Então, até amanhã, estarei cá logo de manhã para vos vir buscar.  – depositou-lhe um beijo na face e foi embora.
Após Alice sair, Zayn dirigiu-se para o quarto onde Débora se encontrava. Entrou, e todos os doentes que lá estavam, já tinham as cortinas à sua volta fechadas.
-  Parece que os conseguiste convencer. – disse ele quando chegou ao pé dela.
- É…foi fácil…- mentiu, pois não queria contar que o pai lhe havia batido, apesar de ter ficado com a cara marcada.
- A sério? É que o teu pai saiu furioso…
- Pois, já sabes como ele é…mas convenci a minha mãe…
- Ainda bem. Queres que feche as cortinas?
- Sim, por favor.
Zayn levantou-se e fechou as cortinas. Em seguida, sentou-se ao lado dela, á beira da cama.
- Como te sentes? – perguntou enquanto segurava numa mexa de cabelo dela que estava em frente aos seus olhos e punha delicadamente atrás da sua orelha.
- Bem…acho eu…
- Tu és tão parva, mas eu gosto tanto de ti…- ele disse da maneira mais normal possível.
- Porquê?
- Porque és…- beliscou-lhe o nariz.
- Não é isso…porque é que gostas de mim?
- Isso não é pergunta que se faça Debs…Não existe simplesmente uma razão, não é uma coisa que se explique, é uma coisa que se sente. – respondeu, simplesmente.
- És lindo, sabias?
- Sabia. – afirmou fazendo ar de convencido.
- És mesmo otário…
- Olha quem fala! – gritou sem querer.
- Shiuu, Zayn olha os outros doentes…- disse ela a rir-se baixinho.
- Ups, esqueci-me ahahaha.
- Esquecido, mais uma para a lista.
- Ui, vê lá se queres que comece aqui a fazer uma listas das coisas que tu és.
- Está mas é calado. – deu-lhe um leve empurrão no braço, fazendo com que ele se desequilibra-se e quase cai.se, a sua sorte, foi ela o ter puxado para si. Mas, Débora puxou-o com demasiada força, demasiada força para que Zayn quase cai-se para cima de si, demasiada força para que os seus rostos ficassem praticamente colados.
Débora podia jurar que estava a viver um déjà-vu, pois as suas testas estavam coladas, assim os seus narizes e os lábios, os lábios estavam a milímetros de distâncias.
“O que é que estás a fazer Zayn?” dizia a sua própria consciência “Ela está demasiado perto…estou a ficar sem forças…não vou conseguir resistir” pensou e em seguida, sem sequer se dar conta, colou os seus lábios nos dela num beijo profundo.
- Des-desculpa…- pronunciou embaraçado e ofegante, após terem parado o beijo.
- Não…faz mal…afinal de contas nós sempre demos beijos na boca. – tentou Débora disfarçar.
- Debs…sabes perfeitamente que isto foi diferente…
- Porquê?
- Os beijos que nós dávamos eram em forma de carinho, simbolizavam a nossa amizade, eram beijos de ternura como se fossemos irmãos, não como estes beijos…
- Mas Zayn…
- Estamos diferentes…
-Não estamos nada Zayn, não digas isso. Nada mudou, somos os mesmo…Amo-te como um irmão…- o coração de Zayn doeu ao ouvir aquilo tanto quando o dela doeu ao dizê-lo – Este beijo e outro noutro dia na tua casa, foram simplesmente, coisas do momento, pequenas tentações de adolescentes, mais nada…
- É…acho que tens razão…- Zayn disse com um pingo de desilusão na voz.
Um silêncio constrangedor se fez naquele quarto. Zayn por momentos, tivera um pingo de esperança, um pingo de esperança que ela na verdade sentisse por ele aquilo que ele estava a sentir por ela, mas pelos vistos enganara-se.
Aquele momento havia sido constrangedor o suficiente para fazer com que os dois não trocassem uma única palavra para o resto da noite. Zayn acabou por adormecer, com a cabeça no peito de Débora.
Débora não aguentou e começou a chorar desesperadamente, tinha muita coisa presa, tinha muitas emoções entaladas e sobretudo mentiras, mentiras que acabara de contar para Zayn. Nunca pensara ter que mentir para ele, não sobre aquilo, não para vê-lo sofrer. Partia-se-lhe o coração por lhe ter mentido. Ela amava-o, amava-o tanto mas tanto, que tinha que o fazer. Iria ser muito mais difícil se ela tivesse admitido aquilo que na verdade sempre sentira por ele, iria ser muito mais doloroso na despedida, para ela, para ele, para ambos.   

10º Capítulo


Débora permanecia a olhar ao seu redor, pensativa, quando os seus olhos pararam mesmo em frente à porta do quarto. Zayn acabava de entrar e vinha na sua direcção.
- Então princesa, já pensaste tudo o que tinhas a pensar? – perguntou sentando-se na cadeira à sua beira.
- Hã?
- A tua mãe disse que querias estar “sozinha” – disse fazendo o gesto de aspas com os dedos.
- Ah…sim…Eu quero que durmas aqui comigo…
- Eu? Mas, e a tua mãe?
-  A minha mãe que vá para casa…eu amo-a muito, mas eu não tenho paciência para mais sermões, não hoje, não agora. Eu preciso de ti, eu quero-te a ti, comigo. – disse sem o encarar.
- Já te disse que és linda? – perguntou ele beijando a sua testa demoradamente.
- Ficas?
- Duvido que os teus pais concordem com isso, mas não custa tentar.
- Se eles me querem ver bem, não podem impedir isso.
- Então vá, eu vou lá fora chamar os teus pais para cá virem, para lhes pedires isso.
- Esta bem…- disse sem vontade.
- Até já tonta. – despediu-se, depositou-lhe um leve beijo na testa e saiu.
Débora sabia que convencer os pais a deixarem que o Zayn passasse a noite com ela ali e não a mãe, seria difícil, pelo menos convencer o seu pai, mas ela tinha que conseguir, ele tinha que permitir.
Nem cinco minutos faziam desde que Zayn havia saído, e já os seus pais entravam pela porta.
- Então meu amor, o Zayn disse-nos que tinhas algo para falar connosco. – disse a sua mãe, fazendo uma leve caricia no seu rosto.
- Eu queria pedir-vos uma coisa…
- Mau, tinha que vir porcaria…
- Josh, não sejas assim. – Alice repreendeu-o e Débora simplesmente ignorou o comentário do pai.
- O Zayn pode ficar comigo, aqui esta noite? – pediu delicadamente.
- Então e eu filha? – perguntou a sua mãe.
- Tu vais para casa com o pai mãe.
- Tu deves de estar é maluquinha! É que nem penses! – Josh afirmou em alto e bom som.
- Mas porquê pai!?
- Porque é a tua mãe que tem que ficar aqui, não um rapazeco qualquer! Deves de pensar que eu sou parvo!
- Um rapazeco qualquer? É o Zayn pai! O ZAYN! Desculpa lá mas é que só podes mesmo estar parvo! – gritou sem sequer se aperceber do que havia dito e numa fracção de segundos, sentiu a sua cara a fervilhar com o estalo que o seu pai acabava de lhe dar.
- Josh! Não estamos sozinhos! – Alice relembrou-o.
- Não quero saber se estamos sozinhos ou não! Ela minha filha e faltou-me ao respeito!
- Tu nunca foste assim! Eu não percebo o que se anda a passar contigo ultimamente. Primeiro queres levar-me para longe, queres distanciar-me do Zayn para sempre e nem sequer me deixas aproveitar o tempo que ainda cá estou para estar com ele! – Débora tentou gritar, mas em vão, eram poucas as forças que tinha e acabava de as perder por completo quando o seu rosto começava a encher-se de lágrimas. O seu pai estava mais uma vez a partir o seu frágil coração.
- Ela tem razão Josh…
- Mas tu ainda ajudas Alice? Eu muito sinceramente não te percebo! Ela é uma miúda, ainda é uma criança Alice, uma criança! Quando for para Portugal há de conhecer novos amigos e esquecer este rapaz!
- Pai! Sai! Por favor…Sai! – Débora pediu delicadamente.
- Desculpa?
- Pai tu ouviste bem, se tens amor à tua própria filha, por favor…sai daqui…
- Josh, por amor de deus, faz o que ela está a dizer.
- Eu…muito sinceramente…não foi assim que te eduquei…Alice, estou lá fora à tua espera. – disse e saiu com todos os olhares postos em si.
Após o pai sair, Débora caiu completamente na tristeza. Ela amava o seu pai, ela amava a sua mãe, e ela amava Zayn. Porque é que o seu pai não poderia simplesmente perceber que ela o amava, porquê?
- Oh meu amor…tem calma. – Alice disse abraçando-a
- Oh mãe…porquê? Porque é que o pai não percebe? Porque é que ele não percebe que eu Amo o Zayn? Porque é que ele não percebe que quando todos me deitam abaixo e me tratam mal, é o Zayn, e só o Zayn que lá está para não me deixar cair…
- Amor, tu também tens que perceber, que o teu pai está numa má fase, ele foi despedido e estamos com falta de dinheiro, ele só quer o melhor para ti, o melhor para nós todos.
- Pois mãe, mas não é o que parece…
- Mas é a verdade meu amor…
- Eu ainda não lhe contei mãe…digo, ao Zayn, que vamos embora…
- Quando lhe vais contar?
- Não vou…
- Então?
- Não vou aguentar sofrer mais…quanto mais depressa lhe contar, mas depressa o vou perder, e eu não quero isso…eu já te expliquei…já disse que de certeza ele vai ficar fulo comigo e nunca mais me vai falar…
- Tu é que sabes meu amor, só espero que mais tarde não te arrependas.
- Espero o mesmo mãe…
- Bem, a hora das visitas está mesmo acabar, e visto que não me queres a dormir contigo, eu vou chamar o Zayn. – sorriu-lhe fracamente e apertou-lhe o nariz ao de leve.
- Obrigada mãe…Amo-te.
- Amo-te filha. – beijou-lhe a testa – Até amanhã, portem-se bem. – despediu-se e saiu.
Convencer os pais a deixar o Zayn passar a noite consigo, tinha-lhe custado uma mão marcada na sua cara, mas valeria de todo a pena.

9º Capítulo


Débora encontrava-se num quarto de hospital, rodeada de pessoas que como ela se encontravam deitadas em macas. Ela estava confusa, não se lembrava de muito e nem sabia ao certo o que tinha acontecido. Estava com ambos os pulsos protegidos por ligaduras e tinha um tubo com soro espetado no seu braço.
Do que havia acontecido, ela só se recordava de se estar a cortar, sentir muita dor, ouvir a voz de Zayn a chamar por ela e por fim, apagar. Débora estava realmente assustada, pois agora os seus pais e Zayn já sabiam toda a verdade, o que ela fazia cada vez que se fechava na casa de banho.
Com tudo isto, ela já se havia esquecido que no final do Verão teria que ir embora. Só esperava que os seus pais ainda não tivessem falado sobre esse assunto com o Zayn, pois queria ser ela a fazê-lo, mais tarde, bem mais tarde…
Desgastada, deixou a cabeça cair para trás e começou a pensar, a pensa em tudo, como iria ser a sua vida dali para a frente…e quando fosse para Portugal? O que seria realmente dela, quando já não tivesse mais o Zayn para a proteger?
Enquanto ela pensava e olhava distraída para a janela daquele quarto, sentiu alguém do outro lado, colar os lábios ao seu pescoço e ali depositar um beijo delicado. Não precisou de se virar para saber de imediato quem era. S
Sem se aperceber, um enorme sorriso se abriu no seu rosto. Ela sabia que o que estava por vir, seria provavelmente um sermão, mas senti-lo ali, com ela, era a melhor sensação do mundo.
- Que susto! – desabafou Zayn por fim e virando o rosto dela para ele – Nunca mais me faças uma coisa destas, nunca mais! Ouviste?!
- Sim…- respondeu fininho baixando a cabeça.
- Debby…Débora…olha para mim…- pediu colocando a sua mão no queixo dela – tu não tens noção do susto que eu apanhei…eu tive tanto, mas tanto medo de te perder amor!
Num impulso, Débora abraçou-o. Ali estava a prova que ela precisava para confirmar que ele era de facto perfeito.
Zayn, sem a querer magoar, apertou-a mais contra si. Ele precisava de saber que aquilo era verdade, que ela estava mesmo ali com ele, que ele não a tinha perdido.
Naquele momento, Zayn não sabia ao certo o que se estava a passar com ele, mas a enorme vontade dele era de a beijar, ali, naquele momento. Tentou controlar-se o máximo que podia e apertou-a ainda mais contra si.
- Auch, Zayn estás a magoar-me. –disse a rir-se.
- Ups, desculpa princesa, só precisava de saber que isto é real e de te ter bem junto a mim. – afirmou e em seguida beijou-lhe a testa.
- Zayn eu…não sei que se passa comigo…mas eu não suporto pensar que estou cada vez mais gorda e…
- Shiu…shiu…eu sei, eu sei amor, não digas nada. – interrompeu-a – vai ficar tudo bem, vais ver.
- Eu só espero que sim Zayn, espero mesmo…Quando é que eu vou poder ir embora daqui?
- Eu não sei – encolheu os ombros – Olha, os teus pais também querem vir, vou dar-lhes a vez, sim amor?
- Mas eu não quero que te vás embora.
- Eu não vou embora totó, vou só um bocadinho lá para fora para, pelo menos a tua mãe puder vir – beliscou-lhe o nariz carinhosamente – vá, até já parvinha – beijou-lhe a testa e saiu.
Era por estas e por outras que Débora tanto o amava. Aquele rapaz era bastante importante para ela e cada vez que se lembrava que iria ter que o abandonar o seu coração partia-se em mil bocadinhos.
Débora olhou bem à sua volta e viu o quanto as pessoas sofriam ali, deu-lhe uma enorme vontade de chorar.
- Filha…- assustou-se ao ser surpreendida por um abraço apertada da mãe – que susto que me pregaste.
- Desculpa mãe…- pediu sincera.
- Oh meu amor, tu não tens que me pedir desculpa, não a mim…tu tens que pedir desculpa a ti própria…como te sentes?
- Eu…eu sinto-me bem…digo, normal…- de repente lembrou-se de algo e entrou em pânico – Mãe…Mãe por favor diz-me que não falaram nada sobre ir para Portugal ao Zayn, por favor…
- Não filha, não falámos…mas, mais cedo ou mais tarde, ele terá que saber.
- Pois, e eu…prefiro que ele saiba mais tarde mãe.
- Mas meu amor, ele tem que saber, se não ele vai ficar chateado contigo porque não lhe confias-te isso.
- Mãe, ele irá ficar chateado comigo de qualquer das maneiras…eu vou abandoná-lo…e assim sempre fica chateado quando já nem tivermos oportunidade de estarmos juntos…
- Oh Débora, não penses assim…
- Mãe, é a minha opção, aceite-a por favor…
- Eu aceito filha, claro que aceito, não tenho outro remédio.
- Obrigada…
- Bem…o médico teve a falar connosco e ele acha conveniente que consultes um pscicólogo…
- Um quê?! Nem penses mãe! Eu não quero ir para psicólogo nenhum…não estou maluca! – falou revoltada.
- Débora, um psicólogo não é mesma coisa que um psiquiatra. Um psicólogo é alguém com quem tu podes falar, desabafar, alguém que talvez te vá fazer sentir melhor e…
- Mãe, não sou nenhuma criança, eu sei perfeitamente o que é um psicólogo e não…eu não quero. Para além do mais, nós vamos para Portugal não tarda muito e…
- Ainda tens dois meses pela frente filha.
- Mãe…esquece! Eu estou bem e prometo que nunca mais volto a fazer aquilo…acho que…aprendi a lição com isto.
- Prometes mesmo?
- Prometo mãe, bolas…
- Eu tive tanto medo de te perder filha…
- Por amor de deus mãe, foram apenas uns cortes e…
- E…apenas uns cortes? Por amor de deus digo eu…mas, enfim…convence o teu pai e logo veremos.
- Está bem…quando é que posso ir embora?
- Amanhã.
- OQUÊ?! PORQUÊ?!
- Porque sim, eles dizem que tens que ficar esta noite de vigia, para precaução e para o caso dos pontos rebentarem.
- Fogo, que estupidez.
- Não é estupidez nenhuma e eu vou ficar cá contigo…
- Fogo mãe…Olha, desculpa-me mas, podes sair um bocadinho, quero ficar sozinha e…
- Mas está aqui tanta gente, nunca irias ficar sozinha.
- Mãe, por favor, tu percebes-te.
- Está bem filha, vá, até já. – depositou-lhe um beijo na testa e saiu.
Ela estava completamente revoltada, a cada momento mais e mais. Agora era assim? Pensavam que ela era uma maluca suicida? Poças, ela apenas se cortava para esquecer a dor psicológica mas nada de mais, tanta gente que fazia tal coisa só que daquela vez correu mal.
E, ainda por cima teria que passar uma noite ali, num hospital, cheio de pessoas doentes e tristes, porque sim, era triste ver pessoas a sofrer, era horrível e essa era uma das coisas que faziam Débora ter vontade de chorar.
Enquanto Débora se sentia deprimida a olhar ao seu redor, na sala de espera do hospital, os seus pais e Zayn permaneciam em silêncio.

8º Capítulo


Nem 5 segundos se passaram e toda a família de Débora, Alice, Josh e Kevin, já se encontravam na sala.
- OH MEU DEUS! Zayn o que é se passou?! – perguntou Alice escandalizada  enquanto digitava o número de emergência – Josh, tira o Kevin daqui! JÁ! – Josh sem pensar, obedeceu, tirando o pequeno Kevin que olhava assustado e com lágrimas nos olhos para a irmã, e levando-a para a cozinha.
Após ter chamado a ambulância, Alice assustada, pediu a Zayn que pousa-se Débora no sofá, mas ele não queria, ele estava traumatizado, e queria protege-la, queria tê-la nos seus braços e sentir que nada pior poderia acontecer com ela. Queria sentir a sua respiração junto ao seu corpo e saber que ela ainda estava viva.
- Mas, conta-me Zayn, o que é que aconteceu?! – pediu Alice desesperada mexendo e remexendo no cabelo e aproximando-se da sua filha que permanecia inanimada no colo de Zayn.
- Eu bati a porta e ela não respondia. Ouvia choros e gemidos de dor mas de repente deixei de ouvir e então decidi arrombar a porta. Entrei e encontrei deitada no chão, assim, desacordada…e com uma tesoura na mão. – disse e começou a chorar mais ao relembrar-se da cena.
- Oh meu deus! Ao ponto que chegámos! A minha menina! Que mal fiz eu a deus para merecer isto?! – atirava Alice desesperada e a chorar. Ela mal conseguia encarar a sua filha ali, naquele estado.
- A ambulância está a demorar muito tempo e ela está a perder muito sangue! – gritava Zayn exausto e a perder todas as forças que tinha – Debby amor, não me deixes por favor! – pedia olhando para o rosto sem expressão da melhor amiga.
- Não digas uma coisa dessas Zayn, por amor de deus! – pediu-lhe Alice cada vez mais desgastada.
Passados poucos segundos, ouviram as sirenes da ambulância e suspiraram. Depressa Alice correu para abrir a porta e Zayn seguiu atrás dela com Débora nos braços. Foram em direcção da ambulância.
- Boa tarde. É esta menina a paciente? – perguntou um dos paramédicos que se preparava para tirar a maca de dentro do veiculo.
- É sim! – respondeu Zayn exasperado.
- O que aconteceu com ela? – perguntou fazendo sinal a Zayn para que a pousa-se na maca cuidadosamente.
- Cortou-se com uma tesoura e perdeu os sentidos. Ela está a perder muito sangue.
- Vamos despachar-nos. – disse empurrando a maca que transportava Débora, para dentro da ambulância – qual dos dois nos acompanha.
- Alice, prefere ir você? – perguntou-lhe Zayn.
- Vai tu meu querido. Eu vou mesmo atrás de carro com o meu marido. Será que poderíamos deixar o Kevin com a tua mãe?
- Claro que podem, passem por lá e deixem-no, ele que brinque com a Saffa ou assim. Eu mando mensagem à minha mãe a avisar. Bem, tenho que ir. – disse entrando na ambulância rapidamente.
- Vai meu querido, ela precisa de ti.
Os paramédicos fecharam a porta da ambulância e pregaram a fundo.
Dentro do veiculo, os paramédicos tratavam de Débora, pondo-a a soro e estancado os seus golpes com ligaduras, enquanto Zayn em pé ao seu lado, cheio de nervos.
- Porque é que ela não acorda? – perguntou preocupado.
- Tenha calma, nós agora também lhe demos uma espécie de anestesia para quando chegarmos ao hospital podermos logo cozê-la. Teve sorte em ter sido na horizontal, porque se os cortes tivessem sido na vertical teria sido fatal. – explicou-lhe e Zayn sentiu-se mais aliviado.
Passados uns cinco minutos de caminho, e estavam no hospital.
Abriram a porta da ambulância, transportaram a maca onde Débora permanecia deitada para fora do veiculo e Zayn seguiu-os enquanto entravam para dentro do hospital.
- Mulher, 16 anos, cortes profundos nos pulsos, mas na horizontal e encontrava-se inanimada! – gritou o paramédico que empurrava a maca de Débora.
- Porta das urgências! – apontou um dos médicos que se encontrava no edifício.
- Aqui já não podes entrar rapaz, vais ter que esperar ali na sala de espera. – disse o paramédico a Zayn.
- Mas…
- Mas nada, não podes. Deixa-nos fazer o nosso trabalho, em breve traremos noticias da tua namorada. – disse arrogante entrou para as urgências.
- Ela não é minha…namorada…- disse baixinho.
Então, cabisbaixo, Zayn seguiu em direcção à sala de espera e sentou-se numa cadeira. Lembrou-se de ligar à mãe.
- Estou?! Mãe?! Sim…não…estou no hospital com a Débora. Não mãe, eu não sei, mas eu só espero que ela fique bem. É uma longa história eu depois conto-te. Mas olha, a Alice vai passar por ai não tarda muito para deixar ai o Kevin, pode ser? Ok mãe. É que eles vêm para cá para o hospital. Sim, eu quando tiver novidades ligo-te logo. E sim, eu conto-te tudo mais tarde.
Após desligar a chamada da mãe, Zayn guardou o telemóvel no bolso e atirou a cabeça para trás. Ele estava cansado, frustrado, confuso e acima de tudo assustado. Que raio se havia passado na cabeça dela para fazer uma coisa daquelas? Ele não compreendia e isso era uma coisa que o deixava super assustado. Agora, mais do que nunca ele estava com medo, com um enorme medo de a perder, agora e para sempre.
Uns 15 minutos de espera, Alice e Josh apareceram rompendo pela porta do hospital.
- Onde está ela?! – perguntou Alice aflita a Zayn.
- Levaram-na para as urgências. Felizmente, os paramédicos disseram que como foi na horizontal não foi muito grave, se fosse na vertical poderia ter sido fatal. – explicou-lhe Zayn.
- Eu muito sinceramente gostava de saber oque se anda a passar na cabeça daquela rapariga. Primeiro, nunca come nada de jeito, depois responde-nos mal e agora isto? – disse Josh.
- Talvez a culpa seja sua, seu bruto…- pensou Zayn para si.
- Há quanto tempo é que ela entrou? – perguntou Alice.
- Mais ou menos uns quinze minutos atrás. Na ambulância o paramédico disse-me que vão ter que cozê-la.
- Coitadinha da minha menina.
Alice e Josh sentaram-se junto a Zayn e juntos esperaram por noticias.
Meia hora depois, o médico que havia acompanhado Débora veio ter com eles.
- Muito boa tarde. São os pais da Débora? – perguntou-lhes.
- Sim, somos sim. – respondeu Alice levantando-se num ápice.
- Bem, os cortes estavam feios, mas felizmente conseguimos cozer e agora ela só precisa de repouso. Perdeu um pouco de sangue, mas nada de grave, ela desmaiou por causa da dor. Mas, há ainda algo que quero falar convosco…
- Diga doutor. – pediu Alice. Josh e Zayn mantinham-se perto para ouvir tudo com muita atenção.
- Foi ela que se cortou?
- Sim…- desta vez, foi Zayn quem respondeu.
- Não foi a primeira vez.
- Já era de espera…então, é isto que ela fazia cada vez que ia para a casa de banho e ficava lá trancada durante tempos.
- Como é que nós nunca demos por nada? – intrigou-se Josh.
- Ela tem aquele monte de pulseiras nos braços para disfarçar. – recordou-se Zayn.
- Não desconfiam porque fará ela isto?
- Na verdade…eu não sei, mas ela só se enfia na casa de banho assim, cada vez que come alguma coisa de jeito…ela está sempre com a mania que está gorda e coisas do género.
- Então foi isso…ela corta-se para sentir a dor física e tentar esquecer a dor psicológica que sente ao ver, pensar que está cada vez mais gorda e tudo o resto que a afecta…
- Oh meu deus, isso é horrível!
- Pois é minha senhora, mas é a realidade. Hoje em dia, existem muitos casos destes. Não gostaria que a sua filha fosse acompanhada por um psicólogo?
- Eu não sei…- respondeu Alice mas foi interrompida.
- Tem que se pagar? – Josh perguntou apressadamente.
- Não se for aqui no hospital.
- Então acho que é melhor, se não qualquer dia essa miúda ainda se mata.
- Josh cala-te!
Zayn teve-se que se controlar o mais que pode depois de ouvir aquilo. Enojava-o a maneira como aquele homem falava dela. Como é que ele podia dizer uma coisa daquelas e falar assim, com toda aquela arrogância da sua própria filha? Ele não era assim…aquele não era o Josh que Zayn havia conhecido há 5 anos atrás. Era como se, aquele senhor simpático e gentil que havia conhecido, se tivesse tornado num monstro bruto e insensível.
- Josh nós primeiro temos que falar com ela, não podemos decidir nada sem a Débora. – disse Alice.
- Exacto, concordo consigo. – afirmou Zayn.
- Rapaz, tu aqui não tens que concordar ou discordar com nada. Não fazes parte da família. Aqui o pai sou eu, eu é que mando. – respondeu apontando-lhe o dedo.
Zayn tentou manter-se calmo e conter toda a raiva que sentia naquele momento, então preferiu ficar calado. Agora ele percebia o que Débora sofria, tadinha da sua menina.
- Então Josh, não precisas de falar assim com o rapaz…- disse calmamente Alice.
O jovem notava um pouco de receio por parte de Alice ao falar com o marido, como se ela tivesse medo que ela a magoa-se.
- Eu falo como eu quiser mulher…mas sim, tudo bem…falemos então com ela primeiro…
- Muito bem, então. –pronunciou-se o médico pela primeira vez em tanto tempo.
- Quando é que a podemos ver, doutor? –perguntou Zayn ansioso.
- Acho que agora, mas tem que ser um de cada vez. Ela não está num quarto sozinha, existem mais pacientes lá e depois geraria uma grande confusão. Quem vem primeiro?
- Posso ir? - perguntaram Alice e Zayn ao mesmo tempo.
- Vá você Alice, afinal de contas, você é a mãe, desculpe. – disse Zayn gentilmente.
- Esperem…és o Zayn? – perguntou o médico.
- Sim, sou…mas, como sabe o meu nome?
- É que ela assim que acordou, foi a primeira coisa que disse, Zayn.
Ao ouvir aquelas palavras saídas da boca do médico, Zayn sentiu-se estranho, sentiu algo a sobrevoar sob o seu estomago, mas algo que o fazia sentir-se bem.
- Deixa lá Zayn, vai tu…Tenho a certeza que é a ti que ela vai amar ver. Eu vou a seguir meu querido- disse-lhe Alice, sorrindo sincera.
- A sério? É que se quiser eu não me…
- Vai.
E assim, Zayn seguiu atrás do médico, por entre todo aquele labirinto que era o hospital.

7º Capítulo


Na manhã seguinte, Débora acordou um pouco mais calma mas ainda assim frustrada com tudo.
Olhou para o relógio, 12:30, tão tarde e ninguém a tinha vindo acordar. Ainda bem, também, ela estava de férias, tinha direito.
Levantou-se da cama ainda ensonada, dirigiu-se para a casa de banho, fez a sua higiene pessoal, vestiu-se e em seguida desceu.
- Mana! – Kevin correu na sua direcção e abraçou-a – Já acordas-te. – disse sorridente.
- Onde estão os pais? – perguntou em seguida depositou-lhe um beijo na testa.
- Estão na cozinha, é para ir almoçar, ia mesmo agora acordar-te – disse e agarrou na mão da irmã – Vamos!
- Vamos, vamos. – respondeu rindo com a atitude do irmão e seguiram para a cozinha de mãos dadas.
Josh e Alice já se encontravam sentados à mesa. O almoço era bifes com batatas fritas. Boa, só coisas super deliciosas e más para a saúde e para Débora. Esta era uma comida que Débora adorava e que comia sem parar e ela não queria, não queria comer, não queria engordar mais.
- Boa tarde menina! Isto é que são horas de acordar? – perguntou Josh num tom rígido.
- Boa tarde – disse Débora enquanto se sentava ao lado do irmão – Estou de férias, tenho o direito de dormir até tarde pai. – respondeu calmamente.
- Ela tem razão Josh. – Alice concordou.
- Ela que não tivesse razão, não é Alice? – resmungou servindo-se.
- Bem, não vamos começar com discussões por favor.
- Concordo com a mamã, papá. – disse Kevin.
Josh não respondeu e começou a comer. Já faltavam poucos dias para ele abalar para Portugal. Débora não queria ser má, mas naquele momento ela só desejava que ele fosse, e tivessem separados por um tempo. Ela amava o pai, obviamente que amava, mas a verdade era que ultimamente eles só discutiam e ela passava a vida deprimida por culpa dele, por culpa das suas parvoíces, das suas bebedeiras e por culpa de toda a sua violência ao falar com eles.
Após todos já estarem servidos, começaram a comer. Diga-se de passagem que Débora encheu e bem o prato, de batatas fritas sem sequer se aperceber. Alice achou estranho, pois ela ultimamente não andava a comer nada de jeito e sempre que comia bem, enfiava-se dentro da casa de banho durante muito tempo. Ela desconfiava o que pudesse ser, mas ou mesmo tempo duvidava, pois nunca cheirava mal, nem tinha vestígios de que ela tivesse vomitado. Mas, que era estranho era, e ela tinha que descobrir o que se passava com a sua menina, por isso havia ligado ao Zayn.
Todos, incluindo Débora, comeram tudo o que estava no prato e ficaram de barriga cheia. Levantaram a mesa, beberam o café e arrumaram tudo.
Como já era habitual cada vez que Débora comia muito, correu para a casa banho e lá se trancou sem dizer nada a ninguém.
Em casa de Zayn, este e toda a sua família já tinham acabado de comer e ele estava sem nada para fazer. Subiu para o seu quarto e atirou-se para cima da cama ficando deitado de barriga para cima. Na parede à sua frente, estava uma enorme moldura, e nessa moldura existia uma foto dele e de Débora no ano em que se conheceram, era ele às cavalitas dela e ela fingia uma cara de sofrimento. Sem se aperceber, Zayn deixou escapar do seu rosto, um sorriso parvo, um sorriso…apaixonado. Eles eram melhores amigos há quase 6 anos, eram como irmãos, mas parecia que para ele tudo estava a mudar, agora, desde que houve aquele momento na sua sala, aquele momento constrangedor mas ao mesmo tempo, fantástico, mágico. Ela beijava melhor do que ninguém, e tocá-la daquela maneira fazia-o sentir-se nas nuvens. De repente, deu por si a pensar no que estaria ela a fazer e decidiu ligar-lhe. Apetecia-lhe estar com ela, abraça-la e dizer-lhe que nunca a iria deixar, que estaria com ela para sempre, em tudo o que ela precisasse. Chamou uma, duas, três, quatro, cinco vezes e nada, Débora não atendia. Tentou ligar de novo e mais uma vez, nem sinal, talvez não estivesse ao pé do telemóvel, o que era estranho. Decidiu então vestir umas calças, uma T-shirt, calçar uns ténis, visto que o tempo estava melhor que no dia anterior, pelo menos não chovia, e então foi até casa dela.
Pôs-se a caminho e em menos de 5 minutos estava parado em frente à porta de Débora. Pensou se deveria tocar ou não, o que foi extremamente estranho, pois ele nunca precisou de pensar para o fazer, ele chegava e tocava, mas agora era diferente, ele sentia-se diferente em relação a tudo o que sentia por ela, mas em vez de se sentir mal, que era isso que era suposto, não, ele sentia-se bem, muito bem. Decidiu então perder aquele pequeno receio e tocar.
- Zayn! Boa tarde. Estás aí parado a fazer o quê? Entra meu querido, entra! – disse-lhe Alice enquanto lhe abria a porta.
- Boa tarde Alice. Como está? Vim ver a Débora. Estava por casa sem fazer nada e decidi ligar-lhe mas ela não me atendeu, então vim ver se estava tudo bem.
- Bem, eu não sei o que se passa, mas ela está mais uma vez trancada na casa de banho e há mais de meia hora e não acredito muito que lhe tenha dado uma dor de barriga, ela faz isto cada vez que come alguma coisa de jeito, digo, quando come.
- Eu vou ver o que se passa, isto não pode continuar assim. – disse, indo decidido em direcção à casa de banho.
- Mas espera, primeiro queria agradecer-te imenso por tudo o que fazes pela nossa filha, és um verdadeiro amigo e uma excelente pessoa, e agradece também à tua mãe por cada vez que a Débora fica em vossa casa. – disse dando-lhe um beijo da testa.
- Oh Alice, não tem nada que agradecer, eu Adoro a sua filha, ela é como uma…irmã para mim e faço o que for preciso para a ajudar.
- Ela também gosta imenso de ti. – lançou-lhe um sorriso e em seguida fez-lhe sinal para que ele subisse as escadas – Vai, vai lá ver dela.
Subiu as escadas a correr, com medo do que ela poderia estar a fazer. Correu em direcção à casa de banho e bateu à porta.
- Debby?! Debs?! – perguntou ansioso – Débora, eu sei que estás ai, fala comigo!
Ela não respondia, mas enquanto isso, Zayn conseguia ouvir pequenos gemidos, gemidos que pareciam de dor e também um pequeno choro. Ele estava a ficar stressado, preocupado e não sabia o que havia de fazer.
- Débora, responde-me! Débora! – gritou novamente, mas ela nada. E agora, já nem se ouvia gemidos nem choros.
Foi aí, que sem pensar sequer que a poderia magoar, Zayn ergueu uma perna e deu um forte pontapé na porta com a intenção de arrombar, e conseguiu. Apressado entrou.
Zayn não podia acreditar naquilo que os seus olhos viam, ele não queria acreditar. Ela não podia ter feito aquilo, ela não podia. Ele estava paralisado, completamente petrificado com aquela imagem, era como se o seu coração tivesse parado de bater. Sentia pequenas lágrimas a formarem-se nos seus olhos e a escorrerem lentamente pelo seu rosto.
Então, acordou do seu transe e caiu de joelhos no chão, junto ao corpo inanimado da sua melhor amiga.
Ela estava ali, inconsciente, desacordada, com os olhos cheios de lágrimas e com os pulsos…com os pulsos encharcados de sangue e cheios de golpes na horizontal.
Sem pensar, com uma mão agarrou na sua cabeça e com a outra começou a fazer-lhe pequenas festas no rosto.
- Débora, por favor! Debby fala comigo, por favor! Acorda! – ele estava desesperado, angustiado e agora milhares de lágrimas se derramavam sobre os seus olhos e caiam no rosto desacordado e sem expressão de Débora. – Por favor não me faças isto, NÃO!
Na mão direita de Débora, encontrava-se a arma do crime, uma tesoura com uma ponta super bicuda.
Desesperado e ao ver que ela ainda respirava, depressa agarrou nela ao colo e correu dali para fora. Chegado às escadas, ele tentou desce-las cuidadosamente para não caírem os dois.
- ALICEEEEEEEEEEEEE! ALICEEEEEEEEEE! – gritou por a mãe de Débora desesperado – CHAME UMA AMBULÂNCIA! JÁ!!! 

6º Capítulo


Débora saiu de casa apressada, os seus olhos estavam cheios de lágrimas, lágrimas que pareciam infinitas. Ela não podia acreditar que aquele era o dia, era o dia em que se tinha que despedir dele, em que diria adeus e provavelmente o último dia em que via aquela face, aquele rosto, aqueles olhos, aquele nariz, aqueles lábios perfeitos que tinham um gosto mais do que maravilhoso. Com toda a certeza ele não lhe iria dirigir a palavra, ele não iria querer falar com ela nunca mais depois de ela lhe ter dito que ia embora, que o iria abandonar, mas ainda assim ela foi ter com ele decidida a despedir-se, convicta de que iria ganhar pelo menos um último abraço.
Num passo apressado dirigiu-se a casa de Zayn. Assim que chegou, estafada, tocou à campainha.
Passados poucos segundos alguém veio abrir a porta. Era Patricia.
- Debby! Que surpresa! Entra…- disse-lhe sorrindo mas com uma expressão de olhar triste.
- Ele não quer falar comigo pois não? – perguntou Débora a medo.
- Não sei…experimenta, tentar não custa. Ele está no quarto.
Decidida, Débora subiu as escadas e seguiu em direcção ao quarto que tão bem conhecia.
- Posso entrar? – perguntou batendo à porta.
Não obtendo resposta de volta, abriu a porta e entrou.
Ao entrar, Débora encontrou um Zayn triste, cansado e com os olhos inchados.
- Vai-te embora! – gritou ao olhá-la triste mas enraivecido.
- Não Zayn, eu não me vou embora sem me despedir de ti…- disse aproximando-se dele, enquanto os seus olhos voltavam a encher-se de lágrimas.
- Despedir?! DESPEDIR?! Eu já disse…VAI-TE EMBORA!?!
- Mas porquê Zayn?! PORQUÊ?! Eu não tenho culpa! NÃO TENHO! NÃO TENHO! Não tenho…não tenho…- disse agora sem conseguir conter todo o seu sofrimento. Tentou tocar-lhe no rosto mas ele não deixou, afastando-se num movimento brusco.
- NÃO TENS?! NÃO TENS?! TU ABANDONAS-TE-ME! TU VAIS ABANDONAR-ME!
- MAS A CULPA NÃO É…
- CALA-TE! VAI-TE EMBORA! JÁ DISSE!
- EU JÁ DISSE QUE NÃO VOU SEM ME DESPEDIR DE TI! EU AMO-TE!
- SAI! TU PARA MIM MORRES-TE!! – Gritou quase em cima da sua cara.
MORRES-TE…MORRES-TE…MORRES-TE…MORRES-TE…E aquela palavra continuou a ecoar na cabeça de Débora como uma bala que atinge o seu coração a 1000 km à hora. Débora sentiu o seu coração a acelerar mais, mais, mais e mais até que num movimento brusco parou.
- NÃOOOOOOOOOOOO! NÃOOOOOOOOOO! Não…não…não! – gritou Débora acordando do maior pesadelo que tivera em toda a sua vida. Toda a sua cara estava lavada em lágrimas.
- Amor o que é que se passou? Porque é que gritaste filha? – perguntou Alice entrando de rompante no quarto de Débora.
Esta, depressa se levantou da cama e enxugou as lágrimas. Felizmente tinha sido apenas um pesadelo, mas um pesadelo que se poderia vir a tornar realidade.
- Nada mãe…foi apenas um…pesadelo, só isso. – respondeu forçando um sorriso.
- Assustas-me filha. E, estavas a dormir vestida com a roupa de dia?
- Estava cansada mãe, deixei-me dormir.
- Tudo bem minha querida, agora vê se vais vestir o pijama e descansas. – disse, depositou-lhe um beijo na testa e quando ia para sair do quarto Débora chamou-a.
- Mãe…nós vamos mesmo…ter que ir para Portugal? – perguntou receosa, mesmo já esperando a resposta.
- Temo que sim meu amor, é o melhor para todos.
- Para todos? Para todos mãe?! O pai não sabe o que é o melhor para todos! Ele só está a pensar nele!
- Não fales assim do teu pai Débora Cristina.
- Mas mãe…eu não quero ir, nem eu nem o Kevin!
- Mas tem que ser meu amor, o teu pai precisa de emprego.
- Mas ele pode muito bem arranjar um novo emprego aqui!
- Mas lá ele tem família e não vamos gastar tanto dinheiro em despesas porque vamos alugar a casa um tio do teu pai. Vá, e já chega desta conversa, hoje já houve discussões que chegassem, vai dormir que amanhã é um novo dia. – afirmou e saiu.
Mais uma vez e já não era novidade nenhuma, Débora descaiu-se num pranto. Ela uma rapariga super sensível, e no estado em que estava, qualquer coisa a deitaria a baixo.
Pegou no telemóvel e sem pensar escreveu “ Era só para dizer mais uma vez que Te Amo! Obrigada por tudo”, digitou o número que tão bem conhecia e enviou a mensagem.
Pousou o dispositivo movél em cima da mesinha de cabeceira e dirigiu-se para a casa de banho. Fez a sua higiene pessoal e vestiu o pijama.
Já de regresso ao quarto, ouviu o telemóvel vibrar e um pequeno sorriso apaixonado se instalou no seu rosto. Uma nova mensagem de Zayn Malik. Sentindo borboletas no estomago e um grande nó na garganta, Débora carregou no botão abrir.
“ Também te Amo feia <3 E não agradeças, sempre ouvi dizer que a amizade não se agradece! Nunca me deixes! Xx”
A última frase fez Débora engolir em seco. Parecia que ele lia pensamentos.
Com as mãos a tremer, começou a digitar.
“Ahah, que amável. Nunca te vou deixar seu gordo! Xx”
- Mentirosa, Débora! Mentirosa! – gritou consigo própria.
Obviamente que ela o ia deixar, não por vontade própria, mas sim por obrigação. A pobre jovem, sentia-se cada vez pior, parecia que a cada segundo uma parte do seu mundo se desmoronava, então cansada e farta de tudo, decidiu ir dormir, ou pelo menos tentar dormir como deve de ser.