Agora
sim, agora Débora sabia, sentia e tinha a certeza que tudo tinha mudado e que
nada voltaria a ser igual. A jovem estava deitada na sua cama, eram duas e meia
da manhã e o sono não havia meio de vir. Voltas e mais voltas, era o que ela
conseguia fazer. Débora dava voltas e reviravoltas na sua cama tentando fazer
com que o sono lhe viesse sem que fosse preciso fechar os olhos, pois cada vez
que ela o fazia, aquela imagem, aquele flashback do pior momento daquele dia
vinha-lhe à cabeça. Num pulo apressado, a jovem levantou-se da cama e
dirigiu-se à sua cómoda retirando logo em seguida o seu diário de dentro da
gaveta. Ela sabia, Débora sabia que precisava daquilo naquele momento,
precisava daquilo para que mais nenhuma besteira acontecesse. Pegou numa
caneta, sentou-se no chão com as costas encostadas na cama e começou a exprimir
para aqueles pedaços de papel tudo o que sentia.
“Sou tão burra, sou tão
parva por ainda sofrer por isto…por sofrer por algo que mais cedo ou mais tarde
eu sabia que viria a acontecer. Mas a verdade é que eu sempre acreditei nas
palavras dele, naquele dia…no hospital. Eu sempre pensei, sempre senti que ele
estava a falar a verdade e que realmente ele nutria esses sentimentos a mais
por mim, sentimentos que também eu carrego comigo por anos. Dói, dói tanto só
de pensar que ele agora é oficialmente “dela”, ainda por cima daquele
monstro…Pois é querido diário, hoje, dia dez de agosto de dois mil e dez, Zayn
oficializou a sua relação com Geneva. Hoje, Zayn ficou oficialmente
comprometido. Nunca pensei, nunca pensei que isso realmente pudesse vir a
acontecer e ao mesmo tempo…ao mesmo tempo eu sempre temi isso. É tão irónico
pensar uma coisa e no momento a seguir sentir outra completamente diferente.
Sinto-me péssima, sinto-me só e desprotegida…sinto que fiquei sem ponto de
abrigo, sinto que a cada dia perco cada vez mais ligação com ele e isso é tudo
o que mais temo. Por outro lado, não tenho o direito de me sentir assim, não
quando eu sou uma estúpida cobarde que em menos de um mês irá abandonar aquele
que ama e aquele que sempre fez tudo por mim, aquele que sempre pôs tudo e
todos para trás para poder cuidar de mim… É verdade…falta menos de um mês para
eu ter que ir para Portugal, para eu partir para um lugar completamente
desconhecido e abandonar aquele que amo, o meu herói, aquele que dá luz à minha
vida…Parece infantil escrever e pensar este tipo de coisas, tendo eu apenas
dezasseis anos, mas a verdade é que tudo isto é o que sinto e por mais que eu
tente negar, eu não sou feliz, não consigo ser feliz e sinto-me a sofrer mais a
cada dia que passa. Não era suposto eu sentir-me assim, não tão nova…Gostava de
puder voltar atrás no tempo e talvez mudar algumas coisas em mim…talvez da
altura de quando eu sofria bullying por culpa da minha forma física, talvez se
tivesse agido de forma diferente para com as pessoas que o cometiam eu fosse
diferente…Porém, hoje já não sei de nada, não tenho a certeza de nada a não ser
de que o Amo e que partir e deixá-lo para trás será o momento mais difícil de
toda a minha vida… Sinto-me cada vez mais fraca que já nem posso mais segurar
nesta caneta…”
Sem
mais uma vez conseguir controlar as lágrimas, Débora pousou o diário e a caneta
no chão e abraçou os seus joelhos deixando que o choro e a dor que sentia no
seu peito tomassem conta de si. Era visível aos olhos de qualquer um que
olhasse para aquela jovem, que ela sofria, mas também era visível que por mais
que ela pensasse o contrário, ela era forte e muito, pois se ela realmente não
fosse forte, nunca teria aguentado tudo aquilo que ela aguentava.
Débora
tivera com toda a certeza, uns dez minutos naquele sufoco até ouvir a porta do
seu quarto ser aberta muito lentamente.
-
Mana…- Kevin pronunciou-se baixinho ajoelhando-se ao lado de Débora.
-
Já não devias de estar a dormir há muito tempo? – Débora perguntou limpando as
lágrimas com a manga do pijama.
-
Estás a chorar…- o seu pequeno afirmou ignorando a pergunta dela.
-
Não estou nada, foi apenas algo que me entrou no olho.
-
Entrou-te algo nos dois olhos? Não mintas…Eu estava a dormir, acordei para ir à
casa de banho e ouvi-te a chorar…
-
Oh Kev…
-
Que se passa contigo mana? Estás sempre triste, a chorar…não és feliz?
Débora
realmente não esperava aquela pergunta por parte do seu irmão, não esperava que
ele notasse o que estava bem visível aos olhos de todos.
-
Responde mana…estou preocupado contigo e a mãe também. Tu não sabes, mas eu já
vi a mãe chorar algumas vezes.
-
Quando?
-
Quase todos os dias…acho que ela sente culpa.
-
Culpa do quê?
-
De tu não seres feliz…
-
Mas quem disse que não sou feliz?
-
Ninguém precisa de dizer.
Kevin
podia ter apenas oito anos, mas não havia criança mais esperta que aquela.
-
Seja como for…ela não tem culpa de nada.
-
Ela não acha isso. Eu já me sinto tão triste por te ver chorar e…ver a mãe a
chorar também não é nada bom…Tenho saudades de quando erámos todos felizes.
Há
quanto tempo é que teria sido isso? Essa fora a pergunta que logo surgira na
mente de Débora.
-
Vem cá…- Débora pediu entre lágrimas esticando os braços para que o seu irmão a
abraçasse e este assim o fez.
Naquele
momento, Débora sentiu-se um pouco feliz por sentir que ainda tinha alguém com
ela, por sentir que ainda fazia falta a alguém e por saber que ainda valia a
pena viver.
-
Deixa-me dormir aqui contigo hoje. – Kevin pediu, Débora assentiu e logo em
seguida os dois deitaram-se na cama dela tentando cair no sono.
Na
manhã seguinte assim que Alice fora ao quarto da sua filha e se deparara com
aquela imagem, os seus dois filhos a dormir abraçados um ao outro, não pôde
evitar que um pequeno sorriso se formasse no seu rosto.
-
Débora…filha. – Alice tentou acordá-la baixinho – Acorda meu amor.
-
Bom dia…- ela sussurrou após abrir os olhos e espreguiçar-se cuidadosamente
para não acordar o irmão que dormia profundamente.
-
Bom dia filha. O Zayn está lá em baixo para se despedir de ti. – Alice afirmou
depositando um beijo na testa de Débora.
Pois
é, aquele seria o dia em que Zayn viajaria com a sua banda que já tinha um
nome, One Direction. A banda viajaria até à casa de Simon em Espanha para então
se poderem realizar as tão famosas “Judges
Houses”.
Débora
levantou-se num ápice e correu para o andar debaixo. Assim que chegou à sala e
se deparou com Zayn junto à ombreira da porta, a jovem não hesitou em correr
para os seus braços.
-
Ansioso? – perguntou após Zayn a pousar no chão e lhe depositar um pequeno
beijo na bochecha. A verdade era que desde que Geneva aparecera nas vidas
deles, nunca mais haviam dado daqueles pequenos beijos nos lábios.
-
Principalmente nervoso…- o jovem afirmou mordendo o lábio, o seu tão famoso
tique.
-
Pois é…e é a primeira vez que vais andar de avião!
-
Verdade, agora ainda fiquei mais nervoso!
-
Vou ter saudades tuas…- Débora afirmou querendo de certa forma dar outro
sentido àquela frase, um sentido parecido mas para uma altura diferente.
-
São apenas quatro, cinco dias. Para a semana já me aturas de novo. – Zayn disse
beijando a sua testa carinhosamente – Agora eu realmente preciso de ir Debs.
Ao
ouvir aquilo, Débora sentiu um aperto no coração, sentiu algo que sabia que
iria sentir em pouco menos de um mês, algo que iria doer muitos mais quando
chegasse àquele dia. Zayn ainda nem tinha passado da porta e ela já estava com
saudades, imagine-se quando ela tivera que realmente partir.
-
Amo-te! – Débora afirmou abraçando-o fortemente.
-
E eu a ti! – Zayn afirmou retribuindo o abraço e logo em seguida abandonara a
casa da melhor amiga.
De
certa forma, aquele “E eu a ti!”
doeram ao coração de Débora, pois quando realmente se ama e o sentimento é
reciproco, retribui-se com um “E eu Amo-Te a ti” ou um “Eu
também Te Amo”.
Sem comentários:
Enviar um comentário